Tudo vira mangá
Heróis comuns
“O povo japonês age sempre pensando no coletivo e, por isso, reprime muitas vontades em favor da sociedade. No mangá aparece todo o lado escondido. As personagens podem tomar atitudes impossíveis para os leitores”, analisa o americano Frederik Schodt, autor de dois livros sobre mangá: Manga! Manga! The World of Japanese Comics, de 1983, e Wonderland Japan, de 1996.
“O mangá traz o que tem de mais impenetrável na intocável realidade da mente japonesa”. Nos outros países em que os gibis que fazem sucesso em geral tratam da história de um super-herói, com poderes muito acima do que teria um ser humano normal.
“No Japão o que emplaca são histórias do cotidiano de seres humanos normais. O público prefere as situações possíveis de acontecer na realidade”, acha Kei Tsukasa, artista de mangá de Tóquio.
Talvez seja por isso que o fenomenal sucesso dos mangás não invade outros países. Várias editoras tentam exportar a fórmula, principalmente para o Sudeste Asiático, em locais como Tailândia, Cingapura e Hong Kong. Um dos personagens mais vendidos foi Black Jack, um médico capaz de milagres com um bisturi em operações retratadas com ricos detalhes, closes e muito cuidado.
Até mesmo o Brasil pode entrar definitivamente no mapa do mangá. Algumas editoras japonesas já estão de olho nos leitores brasileiros. Alguns títulos japoneses já foram lançados no Brasil, mas nada em grande escala. Na Liberdade, tradicional bairro japonês em São Paulo, mangás são vendidos na língua japonesa mesmo. Mas isto pode mudar. As histórias de Tezuka, consideradas obras-primas pelos japoneses, já estão em fase de negociação com empresas brasileiras. Infelizmente, não há ainda uma previsão para o lançamento. Segundo Minoru Kotoku, produtor da Tezuka Productions, “há três interessados em publicar a obra de Tezuka no Brasil, dos quais o mais forte candidato é Maurício de Souza”.
*Matéria publicada originalmente na primeira edição da revista Made In Japan, Agosto de 1997.