Entrevista com Takayuki Aoki, produtor do Studio Ghibli
O designer japonês Takayuki Aoki esteve no Brasil a convite da Japan House São Paulo para compartilhar suas experiências de trabalho num dos principais estúdios de animação do Japão, o Studio Ghibli.
No dia 4 de junho, Aoki deu duas palestras para contar como são os processos de criação no Studio, sobre seu trabalho ao lado dos diretores Hayao Miyazaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki – os sócios-fundadores do Studio Ghibli – e falou sobre o planejamento de projetos paralelos como exposições que percorrem o Japão todo e começam a navegar para outros países.
Aoki concedeu uma entrevista exclusiva à Made in Japan e falou sobre novos projetos do Studio Ghibli, carreira e a sua vinda ao Brasil. Contamos tudo em detalhes mais adiante neste post.
Ele também participou de uma das exibições do filme “O Conto da Princesa Kaguya”, no dia 3 de junho, no CineSesc. O filme está em cartaz no CineSesc de São Paulo até o dia 17 de junho de 2017, com sessões diárias gratuitas (confira os detalhes aqui na Agenda Made in Japan).
Este é o Takayuki Aoki, produtor do Studio Ghibli
Entrevista com Takayuki Aoki
Esta foi a primeira vez que o produtor japonês veio ao Brasil. Com a missão de divulgar as produções do Studio Ghibli, Aoki é responsável pelo planejamento de novos projetos de ações promocionais e exposições relacionadas ao universo Ghibli, como por exemplo o Studio Ghibli Layout Exhibition, Ghibli Architecture in Animation e a retrospectiva dos 30 anos do Studio Ghibli em 2015, Ghibli Expo.
Conte-nos um pouco da sua trajetória profissional
Sou designer gráfico e já trabalhava com arte e exposições em museus. Tive a oportunidade de trabalhar em uma exposição chamada Studio Ghibli Layout Exhibition, que está em cartaz no Japão até hoje, e depois desse primeiro contato com o estúdio, fui chamado para trabalhar com eles. Na verdade, até então, eu não tinha assistido a muitos filmes deles.
Essa exposição mostra o processo de produção das animações. Na seleção da montagem, tem vários desenhos feitos à mão pelo Hayao Miyazaki, que mostram o quanto os layouts que são essenciais para formar as bases de cada filme.
Como é o seu dia a dia no trabalho?
Basicamente tenho três tipos de trabalho. Uma das minhas funções é, assim que sai um filme novo, trabalhar com as ações promocionais dos lançamentos. Além disso, faço as exposições dos filmes e planejo projetos novos.
No dia a dia, minha rotina começa às 10h, vou embora por volta das 19h, 20h. No estúdio sempre estão pelo menos dois diretores, entre eles os mais conhecidos Hayao Mizaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki, e um produtor. Trabalho principalmente com o sr. Suzuki, que também produz as exposições.
O projeto mais recente que estamos desenvolvendo é o da exposição “World of Ghibli” em Jakarta (Indonésia). No Japão tem várias exposições acontecendo ao mesmo tempo e há algum tempo essas eram nossas prioridades, não saíamos muito do país. Mas, percebemos que tem uma demanda do exterior, por isso estamos focando cada vez mais nessas propostas de fora, como por exemplo, a exibição do filme O Conto da Princesa Kaguya que faz parte da Exposição Bambu-Histórias de um Japão na Japan House São Paulo.
Existe a chance de uma das exposições vir ao Brasil?
Certamente gostaríamos de trazer mais material para o Brasil, especialmente em São Paulo. Seria ótimo se recebêssemos o convite da Japan House (risos).
Você tem algum personagem e filme preferido do Studio Ghibli?
[momento de reflexão…] Gosto do Meus Vizinhos, os Yamadas, só que esse é menos conhecido. De personagem, acho que eu escolheria o Boh, o filho da Yubaba em A Viagem de Chihiro. Talvez me identifique com ele porque eu sou do ano do rato no horóscopo chinês. (risos) Pensando por esse lado, também o elegeria entre meus preferidos. Gosto desse filme porque ele traz várias referências de deuses e seres que se transformam ao longo da história.
Para aqueles que estão começando no ramo ou que querem seguir a carreira no mundo das animações, o que você recomenda?
Viver só de desenho no Japão, e acredito que no Brasil também, é um pouco complicado. Não dá para ficar rico e não devemos investir na carreira pensado apenas em ganhar dinheiro. Acredito que quem trabalha com animação e desenho, tem um propósito de mostrar uma mensagem para o mundo. O Studio Ghibli, por exemplo, começou pequeno e ninguém imaginava que se tornaria tão grande, que chegaria a ganhar um Oscar. Então, uma coisa importante é que, se você gosta de desenhar, continue desenhando, fazendo o que gosta, buscando aquilo que tem interesse e não deixe essa chama se perder.
Processos de criação do Studio Ghibli
No dia 4 de junho, foi a vez de Aoki se apresentar para o público. Devido ao grande número de interessados, a Japan House abriu uma sessão extra para palestra e transmitiu a primeira sessão ao vivo na página do Facebook.
A sala com capacidade para 130 pessoas estava lotada e muita gente acabou ficando de fora. Mas, quem não conseguiu o ingresso, não precisa ficar triste, pois a organização já avisou que, em breve, o vídeo também será publicado com legendas. Aguardem!
Sobre a palestra com Takayuki Aoki
Na palestra, Aoki contou um pouco dos bastidores do estúdio, mostrou como é o ambiente de trabalho e observou que no prédio, tem um terraço onde costumam contemplar a vegetação e o céu que servem de inspiração e de refúgio para relaxar e voltar ao trabalho.
Ele falou também sobre as etapas de produção de uma animação, que é desenhada à mão. “Um filme como O Conto da Princesa Kaguya teve cerca de 500 mil folhas desenhadas uma a uma para produzir o efeito da animação”, revelou. “Essa na verdade é uma exceção, porque esse filme é um caso que envolve várias técnicas e estilos e levou oito anos para ser concluído desde a concepção da ideia”. E acrescentou: “Em média, cada animação leva dois anos para ser produzida e é feita com umas 100 mil folhas de desenhos, sem contar os estudos de cenários”.
Takayuki conta que um conselho de Miyazaki foi que, quando estivessem pesquisando cenários, evitasse tirar fotos. “Ele disse que a melhor forma de registrar memórias é fazendo sketches para que reflita um olhar único do artista daquele lugar e daquele momento”.
Ao final da palestra, perguntamos à diretora executiva da Japan House São Paulo, Angela Hirata, se já havia algum plano para trazer uma das exposições promovidas por Aoki no Brasil. Ela respondeu que talvez, no ano que vem…
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