Heróis nikkeis
Mesmo garantindo que não tiveram muitos problemas com a Shindo Reinmei, os pracinhas não gostam de falar no assunto. Em compensação, gastam horas explicando a situação financeira à qual foram submetidos, que até hoje não foi bem-resolvida.
Os feridos foram reformados em 1946, porém os demais começaram a receber os benefícios a partir de 1963, com a Lei 42-63. Isso se provassem que estavam incapacitados de trabalhar. O direito de receber apenas por ter participado da FEB só chegou 46 anos depois do fim da guerra, em 1990.
Sannomiya passou a ganhar alguma quantia do Exército somente em 1984, quando começou a receber pensão como 2º tenente. Por sorte, Kunio Ojima conseguiu ser reformado 1 ano antes de ser operado do coração e pôde usufruir um convênio médico. A readaptação à sociedade por parte dos pracinhas teve algumas dificuldades, em parte por causa dos horrores da guerra e em parte pela situação em o país se encontrava quando eles retornaram. Apesar da falta de reconhecimento a esses combatentes, eles não escondem o orgulho de ter defendido o Brasil na Segunda Guerra, fazendo questão de dizer exatamente a qual regimento, companhia e batalhão pertenceram.
Os combatentes ainda vivos levam uma vida normal na medida do possível, mas muitos deles evitam falar sobre a guerra. Em sua casa, em São Paulo, Kodama, que se tornou budista, acende diariamente o sekoo (incenso japonês) em um altar. Aos 85 anos, manco por causa dos ferimentos no pé, ele só lamenta não ter conseguido aprender o idioma japonês. “Tentei estudar em uma escola aos 75 anos mas não tinha paciência para aprender coisas novas. Deve ser por causa da idade”. Ele conta que estudava em uma classe de jovens e uma aluna, na faixa dos 20 anos, não hesitava em demonstrar sua irritação pelo fato de ter de estudar com um idoso que demorava a assimilar as palavras. “Muitas vezes, tinha um branco e entregava as provas sem ter feito nada”, relata Kodama (leia os depoimentos de Raul Kodama no link). Se, por um lado, a memória do ex-combatente está fraca, por outro as lembranças da guerra continuam vivas e presentes em sua mente. E, se ele não é mais capaz de aprender, pelo menos pôde dar uma lição de patriotismo, não somente aos nikkeis, mas também a milhões de brasileiros com a história de sua vida.Reportagem publicada na edição nº 59 da revista Made in Japan