Conteúdo da Made in Japan #059

Heróis nikkeis

Foto do 1º Grupo do 2º Regimento de Obuses Auto-Rebocados, Rio de Janeiro

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Histórias de amor

Além dos problemas do dia-a-dia da guerra, os soldados sofriam pela falta de notícias da família, das noivas e das namoradas. O reencontro com as amadas deixadas no Brasil povoava o pensamento de pelo menos dois nikkeis da FEB, Alberto Tomio Yamada e Massaki Udihara.

Tomio Yamada (no navio de volta ao Brasil), foi dado como morto pela família. Mas, retornou para se casar com a noiva, Ilma

Tomio Yamada (no navio de volta ao Brasil), foi dado como morto pela família. Mas, retornou para se casar com a noiva, Ilma

No caso de Yamada, morto em fevereiro, aos 82 anos, a paixão era também um desafio às tradições moralistas japonesas. No início da década de 40, o rapaz se envolveu com a brasileira Ilma Faria. Naquela época, era inaceitável para as famílias nipônicas que um de seus membros resolvesse se casar com gaijin (estrangeiro). Ignorando as tradições, o rapaz ficou noivo de Ilma, garota católica, participante da congregação das Filhas de Maria, nome dado às moças que ajudavam na igreja.

Mesmo depois de convocado para a guerra, na fase de treinamento em Caçapava (SP), Yamada sempre voltava a Mogi das Cruzes (SP) para visitar a noiva. Na partida para a Itália, a promessa de cartas e da espera por seu regresso. Sempre que possível, o rapaz mandava notícias, até que em dado momento sua família e Ilma ficaram 5 meses sem saber onde estava Yamada.

O cabo tinha sido uma das muitas vítimas de estilhaços de bomba em Monte Castelo e acabou salvo por soldados americanos. Mas, no Brasil, a notícia que chegou era a de que o nikkei havia morrido, pois seus documentos foram encontrados no chão, e ninguém sabia de seu paradeiro. A essa altura, Ilma mudara-se para o Rio de Janeiro, onde ficou sabendo do ocorrido.

Toda a família Yamada acreditou na tragédia. Em homenagem ao “falecido”, foi rezada uma missa em Mogi das Cruzes. Mas, no Rio, Ilma Faria se negava a aceitar a morte do noivo. “Sabia que Yamada não tinha morrido e fui a vários lugares obter informações, até descobrir que ele estava vivo”, conta Ilma, 77 anos.

Em 21 de março de 1945, Yamada escreveu uma carta que avisava: “… Não se preocupe com minha saúde, porque já estou restabelecido por completo e aguardo apenas o dia feliz do embarque…” Em agosto do mesmo ano, o cabo desembarcava no Rio de Janeiro, sendo internado no Hospital Central do Exército (HCE) e ficando sob os cuidados de sua noiva.

A família continuava a não aceitar a união, tanto que não compareceu à cerimônia de casamento, realizada em 26 de dezembro de 1946. “Nunca guardei rancor deles. Sabia que não gostavam do fato de eu ser brasileira, mas nunca me trataram mal”, acrescenta Ilma. O casamento durou 55 anos. “Quando ficou doente, ele dizia que eu tinha lutado com ele na guerra e que agora estava lutando de novo”, emociona-se.

Enquanto Yamada e Ilma ficaram 5 meses sem se comunicar, o casal Massaki Udihara e Maria Haramura tinham notícias constantes um do outro. O médico, além de ater-se ao seu diário durante a Segunda Guerra, escrevia cartas quase que cotidianas endereçadas à sua noiva.

Para que Maria tivesse certeza de que estava recebendo todas as correspondências, Udihara numerava as escritas. Os originais mostram que a seqüência está praticamente completa, totalizando 300 cartas, que começaram no dia 15 de julho de 1944 e foram até 4 de junho de 1945.

Volta à Pátria

No início de maio de 1945, as tropas inimigas que combatiam na Itália se renderam. Em junho, os soldados brasileiros foram transferidos para o sul do país, de onde sairiam os navios de volta para o Brasil. Do mesmo modo que embarcaram para a Itália, divididos em escalões, os soldados retornaram para cá. Os feridos estavam nos Estados Unidos e voltaram em embarcação separada. Mas foi só em 19 de setembro daquele ano que os últimos pracinhas deixaram as terras italianas.

Quando Tomoki Sannomiya se preparava para embarcar no navio S. S. Mariposa, os Estados Unidos lançaram, em 6 de agosto de 1945, sua primeira bomba atômica, em Hiroshima, no Japão. Três dias depois, era a vez de Nagasaki. Não demorou muito para que o imperador Hiroíto se rendesse, em 14 de agosto de 1945.

Enquanto isso, no Brasil, alguns japoneses não acreditavam na derrota nipônica, num movimento que ficou conhecido como Shindo Renmei. Os que acreditavam na vitória japonesa deram início a uma caçada aos compatriotas que sabiam que o Japão havia perdido a guerra. Oficialmente, estima-se que 23 pessoas foram mortas pela Shindo Reinmei em 13 meses de uma ação que durou até janeiro de 1947. Mas o número tende a ser elevado, já que há registros até de crianças que morreram.

Foi em meio a esse caos que os soldados nikkeis desembarcaram no Brasil. Alguns deles foram alvo de ameaças por parte da organização. É o caso do sargento Ojima, que garante ter estado na lista negra da organização, podendo ser morto a qualquer hora.

Redação Made in Japan Redação do site Made in Japan
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Fonte: BCB (17/04/2024)
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