Ki-Aikidô para o público: mestre japonês faz palestra em São Paulo
Koichi Kashiwaya, mestre de 8º dan de Aikidô Shin Shin Toitsu, ou Ki- Aikidô, visitou o Brasil para realizar uma aula prática sobre a arte marcial que estuda o “ki”, a energia universal no dia 30 de novembro. A palestra aconteceu no auditório da Fundação Japão e foi aberta ao público em geral. Kashiwaya já esteve no Brasil algumas vezes, mas é a primeira que, em São Paulo, fala para pessoas não ligadas ao Ki-Aikidô.
Vindas de vários estudos diferentes, como dança ou yoga, além de artes marciais, as pessoas ficaram impressionadas com a força que tem um braço relaxado, que não pode ser dobrado facilmente, ou mesmo a força de concentrar sua mente no chamado “ponto um”, um pouco abaixo do umbigo.
Koichi Kashiwaya nasceu em Yamagata e, aos 20 anos, teve seu primeiro contato com a arte marcial ao conhecer o mestre fundador do estilo, o sensei Tohei. “Fui observar uma aula para crianças e o mestre me convidou para participar. Ele me disse que, se a mente move, o corpo move. Se a mente não move, o corpo não move. No fim da aula, compreendi por que havia dito isso, pois ele passou nos empurrando e havia diferença quando estávamos centrados”, conta. Em 1998, foi enviado aos EUA para ser difusor da técnica. Ele começou a vir ao Brasil depois de ter uma aluna brasileria Leal Keen, que hoje ensina em Santa Catarina e fundou a Sociedade Ki de Belo Horizonte.
A filosofia do Ki-Aikidô dá ênfase à coordenação entre mente e corpo. A técnica almeja os movimentos de acordo com essa união, levando a um corpo relaxado e alerta. Em sua aula, Kashiwaya deu o exemplo do atirador que, se ficar tenso, não atinge o alvo. “O Ki-Aikidô é leve e até os iniciantes conseguem praticá-lo sem machucar”, diz Kashiwaya.
Para Christian Rocha, de 33 anos, professor de Ki-Aikidô, a palestra foi muito importante por ser um ensinamento vindo “direto da fonte”. Paulo Henrique Gallian, de 26 anos, webdesigner, começou a fazer a 9 nove meses o aikidô “tradicional” e gostou de aprender “a base, que é energia”.
Kashiwaya passou quatro anos adquirindo os fundamentos do Ki-Aikidô treinando no sistema “uchidneshi, em que ele e mais cerca de seis alunos moravam na casa do mestre Tohei. Encantado com a maneira do mestre, Kashiwaya diz também que “estudaria o que ele ensinasse, não importa se fosse caratê ou medicina chinesa. Apenas as pessoas podem ensinar outras pessoas, não os conceitos. Os conceitos você pode ler em um livro, mas aprender a ser humano é só com outro ser humano.”
Ponte entre o lado oriental e o ocidental, ele tenta passar os conceitos da forma que considera melhor para os alunos de cada local entenderem, mas avisa que não há muitas diferenças. “O ser humano tem falhas. Compartilhá-las e aprender com elas faz tudo ficar mais fácil. Levar-se muito a sério não funciona”, diz.
No Brasil, ele aprecia a liberdade que se tem para “perder um pouco de tempo”, já que no Japão tudo é muito rígido e nos EUA tudo muito rápido. “O Brasil também tem mais diversidade. Sinto bem, acolhido”.
Para ele, o ki é o caminho de ser único com o universo. “Acho que a mensagem é ser uma boa pessoa. Focados no corpo e na mente, sabemos lidar melhor com o mundo exterior. Somos responsáveis por nossa vida e estamos conectados a outras pessoas. Muita gente diz que quer menos poluição, mas não se relaciona bem com o vizinho. Primeiro precisamos saber conviver, isso é muito importante no mundo de conflitos e problemas que vivemos. Sei que ensinar o Ki-Aikidô não vai resolver o problema, mas contribuir um pouco para que isso ocorra faz diferença”, afirma.
“A mente é uma lente que, colocada contra o sol, pode queimar um papel. Concentrar é descobrir o lugar certo em que a lente deve estar para atingir o resultado que queremos, descobrir o ponto certo para focalizar. A mente no Ki-Aikidô deve estar concentrada no centro do corpo”, diz. E completa: “Somente com a mente relaxada podemos relaxar o corpo. Caso contrário, mesmo descansando, estaremos pensando em preocupações”.
Reportagem: Paula Moura
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