Kendo: a arte marcial dos jedis
Antes de mais nada, Guerra nas Estrelas é uma história carregada de mitos provenientes de povos do mundo inteiro. Mas é na figura dos cavaleiros jedis que o paralelo entre os guerreiros galácticos e os samurais do Japão feudal fica mais nítido. A própria definição do título já carrega uma forte influência japonesa. Jedi vem de jidai geki – como são chamados os filmes de época que contam histórias heroicas de samurais, temperadas com pitadas de drama, humor e muitas lutas de espadas.
O samurai ficava no topo da hierarquia social e tinha muitos privilégios. Por outro lado, tinha de ser um bom exemplo para as classes mais baixas e seguir o bushido, compilação dos princípios básicos que guiavam toda a vida do guerreiro, como a disciplina e a lealdade ilimitada ao seu mestre.
Os cavaleiros jedis, mesmo não tendo poder político, são figuras que têm um papel crucial na galáxia de Lucas. Além disso, Obi-Wan Kenobi (Ewan Mc Gregor) e Qui-Gon Jinn (Liam Neeson), assim como os antigos samurais, devem obediência cega a seus respectivos mestres. Outra característica que aproxima o jedi do samurai é a ligação quase religiosa com a arma utilizada nas batalhas, seja o katana (espada), no caso dos guerreiros nipônicos, ou sabre de luz dos cavaleiros criados por George Lucas.
A técnica do kendo
A técnica usada também é a mesma: o kendo. A arte marcial atingiu o auge no Japão entre as eras Kamakura e Muromachi (séc. 12 ao 17) – ao período de guerras sangrentas entre senhores feudais. Os samurais incorporaram à luta formas de aprimoramento mental e espiritual, importante para a formação do caráter do guerreiro. Características vitais de um jedi.
Qualquer aluno de kendo é capaz de reproduzir os movimentos dos cavaleiros do cinema. Lorde Vader, por exemplo, lança a maioria de seus golpes partindo da posição hasso (em que a espada é posicionada próxima à cabeça). Outros golpes, como chudan, gedan, jodan e waki também são usadas por Obi-Wan, Qui-Gon Jinn e Luke. Até a forma de segurar o sabre é similar à descrita na arte marcial japonesa.
Em A Ameaça Fantasma, Nick Gillard, responsável por treinar os atores nas cenas de ação, tratou de adicionar outras técnicas de luta, como o eppe e o rapier e criou, segundo os mais fanáticos, uma nova arte marcial: o estilo jedi.
Mera coincidência…
Inúmeras histórias, nem sempre plausíveis, começaram a pipocar no arquipélago graças à semelhança da série com a cultura japonesa. A mais fantástica delas foi levantada pelo programa Tokugane!, exibido pela TV Fuji, em junho de 1999. Segundo o produtor Keiji Nishibuchi, Lucas teria buscado inspiração em um dramaturgo japonês já falecido para criar a imagem do velhinho jedi. “O professor Yoda realizou uma palestra sobre cinema em São Francisco na qual Steven Spielberg e Copolla estavam presentes”. Partindo desse fato, a produção criou uma teoria. Lucas, depois de ouvir os conselhos de seus amigos, partiu ao encontro do professor no Japão. Encantado com suas palavras sábias, resolveu homenageá-lo. Quando soube da história, Lucas desmentiu tudo. “Yoda é fruto da minha imaginação” jurou. Nishibuchi não ficou satisfeito. “O personagem lembra muito o professor, desde o nome até o formato das orelhas.”
Reportagem: Alexandre Morettin
Reportagem originalmente publicada na edição nº 22 da revista Made in Japan