Referências a Akira Kurosawa em Star Wars
A série Star Wars tem um apelo especial no Japão, que a vê como uma nova versão de seus clássicos filmes de samurai. Essa admiração é maior ainda porque George Lucas nunca escondeu que sua grande fonte de inspiração para a criação da saga foi o filme Hidden Fortress (A Fortaleza Escondida, 1958), de Akira Kurosawa (1910-1998).
“Kurosawa me influenciou em quase tudo: inspiração, criatividade, atmosfera de suas obras. Ele foi um mestre admirável. Gostaria tanto de um dia alcançar esse nível”, disse Lucas em uma coletiva para a imprensa no lançamento de A Ameaça no Japão.
A Fortaleza Escondida conta a história de dois homens do campo que tentavam voltar para sua terra depois de uma guerra feudal. No meio do caminho, encontram um samurai derrotado, mas disposto a reaver o lugar de sua princesa e a fortuna de seu clã. “Em Star Wars, contei a história sob o ponto de vista dos personagens menos importantes, assim como Kurosawa fez em A Fortaleza Escondida”, revelou Lucas.
Os robôs R2-D2 e C-3PO, segundo o diretor, foram inspirados justamente nesse filme. Em A Fortaleza, dois camponeses caminham numa área deserta quando iniciam uma discussão. A partir desse ponto, contrariados, os dois se separam e, logo em seguida, são presos pelo clã adversários.
Em Guerra nas Estrelas, a dupla de robôs revive a cena logo no começo da aventura. Discutem em um cenário parecido, se separam e, na sequência, são capturados por mercadores do espaço. O resto da história todo mundo sabe.
Mas Lucas não encerra as referências ao seu ídolo por aí. Os fades (a passagem gradual de uma cena para outra) usados em todos os filmes da série já haviam aparecido em A Fortaleza Escondida.
O imperador do cinema japonês teve as maiores honrarias da indústria cinematográfica: duas vezes Oscar de melhor filme (Rashomon e Dersu Uzala), Leão de Ouro (Rashomon), Palma de ouro (Kagemusha) e prêmio especial pelo conjunto da obra, concedido pela Academia de Hollywood. Mesmo com tantos prêmios, ele ainda foi grato a Lucas. “Coppola e Lucas são meus filhos”, disse o mestre. Tinha motivos. Foi graças ao apoio econômico de Francis Ford Coppola e de George Lucas que Kurosawa pode rodar Kagemusha.
A paixão de Lucas pela obra de Kurosawa ainda continua. “Estou pensando em incluir atores japoneses japoneses no elenco.” Depois do sucesso de bilheteria de A Ameaça Fantasma, o diretor doou 1,5 milhão de dólares para a escola de cinema da Universidade da Califórnia construir seu estúdio de efeitos especiais. A única imposição de Lucas: o estúdio deveria se chamar “Akira Kurosawa Studio”. Todos concordaram no ato.
Assista à entrevista com George Lucas falando sobre sua admiração pelo cinema de Kurosawa
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Reportagem: Alexandre Morettin
Reportagem originalmente publicada na edição nº 22 da revista Made in Japan