Os teatros Nô e Kyogen
Nos dias 1º e 2 de julho de 2015, o Sesc Pinheiros (SP) recebeu dois espetáculos e um workshop de teatro Nogaku )teatro Nô e teatro Kyogen), considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO (veja a lista completa dos Patrimônios Culturais do Japão).
Cada dia incluiu duas peças: Funa-Benkei (Benkei no Barco), de teatro Nô; e Ne-onguioku (Cantando Deitado), de teatro Kyogen. Ainda que cada um dos teatros tenham características próprias, ambos são considerados artes “irmãs” com a mesma origem que englobam o teatro Nogaku.
Com movimentos minimalistas, ambos valorizam a interpretação e a imaginação pois elas permitem que a peça extrapole os limites físicos da peça. “O leque, usado no teatro Kyogen, pode representar diversos objetos de acordo com a forma que é segurando. É uma forma de estimular a criatividade dos espectadores ao interpretar a cena”, explicou o ator de Kyogen Ogasawara Tadashi, durante o workshop. “O leque pode servir como um hashi, como um copo de saquê e até como espada, dependendo da cena.A comitiva japonesa, composta por 14 artistas, foi liderada por Michiharu Wakebayashi que se disse surpreso com o interesse dos brasileiros pelo teatro japonês. “Antes de vir estávamos apreensivos para saber se o público compreenderia as peças, principalmente a parte inicial do Funa-Benkei que tem poucos movimentos”, comentou. “Não sabia que existia uma Associação Brasileira de Nô Gaku e é muito gratificante ver o conhecimento que eles têm dos movimentos, da história, ainda mais num país tão distante do Japão. Espero que cada vez mais pessoas se interessem”, completou.
O ator japonês contou que esta foi a primeira vez que ele organizou um grupo tão grande de artistas fora do Japão e que o que mais o impressionou foi a receptividade do público com aplausos calorosos ao final das peças.
“Escolhemos interpretar Funa-Benkei porque é uma peça clássica e bem diferente”, explicou Wakebayashi. “É uma história triste, mas a parte final, muda totalmente e tem momentos intensos que conseguem representar a essência do Nô e as diferenças entre os movimentos”.
O workshop
Durante o workshop do dia 2 de julho, os atores mostraram as diferenças entre os movimentos e expressões dos teatros Kyogen e Nô, explicaram algumas significações nas cenas e dos instrumentos que acompanham cada ato.
As máscaras
O teatro Nô é conhecido pelas máscaras que caracterizam os personagens (em geral, apenas o personagem principal usa a máscara ou usa a máscara mais bonita).
A máscara é menor que o rosto justamente para que a máscara não esconda as características pessoais do ator. Ela pode representar pessoas, demônios, divindades ou animais.
Uma característica singular da máscara de teatro Nô é que dependendo do ângulo em que é posicionada, a expressão pode variar representando sentimentos como alegria (quando inclinada para cima) e tristeza (inclinada para baixo). “A transformação da expressão é o grande atrativo das máscaras de Nô”, ressaltou Wakebayashi.
Os instrumentos
Fuê é a flauta de bambu. Dependendo da intensidade do sopro, pode atingir notas agudas ou mais graves. Não precisa, necessariamente estar no mesmo ritmo que os outros instrumentos.
Kotsuzumi é o tamboril pequeno. Feito com madeira de árvore de cerejeira japonesa, couro de cavalo, cordas laterais e washi (papel japonês), na parte de trás. As cordas ficam afrouxadas e o som muda de acordo com a forma que as cordas são seguradas. Quando as cordas ficam esticadas, o som sai agudo e quando afrouxadas, o som fica grave.
Otsuzumi é o tamboril grande. Ele é maior que o kotsuzumi e, antes das apresentações, tem que ser colocado no aquecedor por uma ou duas horas para secagem. As cordas laterais devem estar bem firmes, portanto, o som não se altera com a corda. A diferença do som acontece de acordo com a força da batida, feita com o auxílio de um protetor que é colocado na palma da mão.
Taiko é o tambor feito com couro bovino e madeira de uma arvore chamada keyaki (Zelkova japonês). A parte que é acertada durante a percussão é feita com couro de cervo. O bastão usado para tocar o taiko, chama-se bachi para controlar a intensidade da batida.
“A flor representa a beleza que aparece na parte que está oculta. O Nô é considerado a arte da imaginação, não se limita ao que vemos com os olhos. A peça faz parte de um mundo extremamente grande que é o mundo da imaginação de cada um dos espectadores”, Michiharu Wakebayashi