Chef Tanahashi apresenta culinária espiritual Shôjin no Brasil
O chef japonês Toshio Tanahashi está na contramão da velocidade. Enquanto o mundo contemporâneo apressa-se para pegar um hambúrguer no balcão de uma loja de fast-food na hora do almoço, ele propõe uma culinária vegetariana que exige dedicação e tempo para o preparo. Tanahashi acredita que sua filosofia gastronômica pode tornar o mundo um lugar melhor e já esteve em países como Tailândia, Estados Unidos e China para divulgá-la. Nesta segunda-feira 22, chegou ao Brasil para uma estadia de uma semana.
Tanahashi, 49 anos, é professor de arte culinária na Universidade de Arte e Design de Kyoto. Ele segue e dissemina a gastronomia tradicional japonesa Shôjin, que tem seus preceitos fundamentados nos ensinamentos do budismo. A base dessa culinária são os vegetais e legumes da estação, que são preparados artesanalmente, sem a utilização de máquinas. Quanto menos industrializados os ingredientes, melhor.
“Na culinária Shôjin, é necessário ter uma relação de gratidão com os alimentos. Dependendo da forma com que eles forem preparados, podem morrer”, ensinou o chef na coletiva de imprensa realizada um dia depois de sua chegada ao País. “O Brasil é muito rico em frutas e legumes, e acho que podemos conseguir um grande avanço aqui. Não tenho a pretensão de mudar os hábitos alimentares dos povos, mas quero transmitir a importância da verdura na saúde das pessoas”, disse.
O respeito pelos ingredientes naturais, considerados dádivas da natureza por Tanahashi, reflete-se nos temperos utilizados em sua gastronomia. O sabor natural das verduras e legumes não podem ser mascarados por condimentos fortes. No lugar deles, Tanahashi utiliza temperos suaves como o missô (pasta de soja), kombo (alga marinha), gergelim e shoyu.
Quaisquer dúvidas em relação ao sabor dos pratos, de temperos simples e sem carne, se desfazem ao degustar os pratos elaborados pelo chef. Em sua estadia no Brasil, Tanahashi preparou três refeições-demonstração no restaurante Kinoshita, em São Paulo. Substituindo os gostos fortes pela harmonização de diferentes aromas suaves, ele surpreendeu.
“Muitas pessoas se assustam com o fato de que a comida pode ser gostosa e satisfazer o corpo, sem a necessidade de carne”, disse, depois do almoço do dia 25. “Sei que é muito difícil, nos dias de hoje, uma pessoa dedicar-se diariamente à prática da cozinha Shôjin, mas acho que se ela fizer isso uma vez por semana, melhorará a qualidade de vida de sua família”, disse.
Comissão para a Divulgação da Gastronomia Japonesa
Organizar a visita do chef Toshio Tanahashi ao Brasil foi a primeira atividade realizada pela Comissão para Divulgação da Gastronomia Japonesa do Bunkyo, constituída em março de 2010 com o intuito de promover a culinária nipônica no Brasil.
A Comissão tem caráter permanente e é presidida pelo chef do restaurante Aizomê, Shin Koike. Ela pretende reunir não só associações de restaurantes japoneses, mas também ceramistas, pesquisadores, indústrias e empresas ligadas à culinária japonesa.
“O projeto terá três fases. A primeira será a investigação da situação da culinária japonesa no Brasil. A segunda, dedicaremos a desenvolver projetos. A terceira será informatizar os dados e organizar eventos relacionados ao tema”, explicou Koike, em coletiva de imprensa realizada em São Paulo, terça-feira 23.
Entre os planos futuros da comissão, está a organização de palestras com chefs de restaurantes japoneses em maio.
Reportagem: Gabriel Nanbu
Fotos: Ricardo Miyajima