Okinawa, a província mais tropical do Japão
Conheça, a seguir algumas pessoas que vivem a cultura de Okinawa no Brasil:
A imigrante
“Conversar, cantar e fazer as coisas com o coração são uma fonte inesgostável de juventude. Não sei se criei bem meus filhos, mas hoje agradeço a Deus por ter netos atletas, PHDs e cidadãos de bem.
A cultura de Okinawa está presente no meu dia-a-dia. Hoje, com quase 100 anos, ainda canto minyo, a música tradicional, todos os dias quando caminho. Outro dia, cantando no ofurô, percebi que a voz se propagava melhor e com muito mais nitidez. Por alguns minutos lembrei da minha infância, quando cantava com meu pai, acompanhado pelo sanshin.
Seu nome era Kokichi Tabi, era filho de samurai, e naquela época apenas
os primogênitos aprendiam a tocar esse instrumento para entreter aqueles que visitavam a casa. Sempre preservamos o espírito de ajudar os outros. Seian, meu marido, ajudou a fundar o Kodomo no Sono e o Centro Cultural Okinawa do Brasil, pensando em promover a cultura uchinanchu.
O que mais aprecio no povo de Okinawa é que todos têm o coração quente, meio parecido com o brasileiro. Mas a minha vida teve momentos tensos.
Seian já tinha me pedido para vir para o Brasil cheia de coragem e disposição. Trabalhamos na lavoura em Itariri, em São Paulo, a época mais sofrida para mim porque tinha alergia à picada de borrachudos.
Não tenho do que reclamar. Posso traduzir minha vida e todos esses anos no Brasil nesses versos cantados: “Sou originária do interior de Okinawa/ Um simples lírio branco/ Que aqui no Brasil floresceu”.
Yoshiko Hanashiro, 99 anos
O dançarino
Minha avó é minha grande influência e inspiração. Ela dançava e era professora de sanshin. Eu sempre assistia a vídeos de dança e teatro de Uchina ao lado dela. Cresci convivendo com a cultura de Okinawa, com o butsudan (altar) em casa, comidas típicas e muita arte.
Em 1994, fui pela primeira vez para Okinawa e me apresentei nas TVs locais. Entrei em uma escola de lá e fiquei dois meses. E minha avó foi comigo. Ela sempre me acompanhou e deu força.
Depois dessa primeira vez, comecei a levar a dança mais a sério. Volto para a terra dos meus antepassados a cada dois ou três anos para aprender mais. Minha vida agora está dividida entre São Paulo e Okinawa por causa do buyo, que é a dança clássica de lá. O buyo está comigo desde que nasci.
Satoru Saito, 21 anos
O músico
Da família, só o meu avô tocava sanshin. Não cheguei a conhecê-lo, mas os dois sanshin que eu toco foi ele quem deixou. Tem um que é bem velho, mas eu mandei reformar.
Antigamente, a caixa do instrumento era toda feita de cobra e esses são considerados os melhores e mais raros. Meus pais não tocavam sanshin, mas tinham fitas de música. Eu ouvi tanto que me interessei em aprender a tocar.
Comecei com 9 anos. Eu nunca fui para Okinawa, mas quero muito. Convivo com essa cultura tão bonita desde pequeno e não quero que acabe. Desde agora já estou passando um pouco para as pessoas e, se tudo der certo, quero continuar na música
e na tradição do meu ditchan.
Victor Oshiro, 15 anos
O guerreiro
Queria fazer alguma arte marcial desde criança. Quando soube que o caratê tinha a ver com a origem da minha família, fiquei mais motivado. Essa prática surgiu na época em que as armas foram proibidas em Okinawa.
Assim, bastões usados para carregar a colheita, enxadas, remos se transformaram em objetos de defesa. O caratê surgiu depois, também como uma maneira de se defender. Sei que na época da Segunda Guerra Mundial, todos treinavam à noite, escondido. Minha família sempre incentivou.
Vou para o Japão agora no fim do ano como prêmio de um concurso de minyo. Vou aproveitar para aprender e corrigir meu caratê. Nem imagino o que vou sentir quando desembarcar lá, ainda mais com a minha avó de 72 anos ao meu lado.
Ela sempre me incentivou, desde muito cedo. Lembro que ela fazia dança no kaikan quando eu era criança e ficava olhando. Foi assim que comecei a me interessar pela cultura. Além de aprender caratê e cantar minyo, toco sanshin, instrumento típico okinawano. O caratê tem tudo a ver com o espírito uchinanchu porque une as pessoas.
por: Luciana Yamashita e Paula Harumi