Memória Viva – A história de Tadao Mizuta
A família Mizuta antes de deixar a província de Nagasaki, no Japão, em 1960, para embarcar no navio Argentina Maru rumo ao BrasilTrês anos após a guerra, me casei com minha mulher, Taeko. Nos anos que se seguiram, a economia japonesa estava em péssimas condições. O número de desempregados crescia a cada dia, e achei que, no futuro, ficaria pior. Cheguei a ficar 6 meses sem receber salário. Decidi então emigrar para o Brasil. Na época, meus dois filhos tinham 11 e 9 anos. Queria que eles tivessem condições de estudar, fazer faculdade e levar uma vida digna. Como já havia muitos japoneses no Brasil, imaginamos que seria melhor educá-los no país. Foi diferente dos primeiros imigrantes, que tinham a intenção de juntar dinheiro e voltar para o Japão. Eu não estava ressentido com o meu país pelas condições desfavoráveis, mas precisava tomar essa decisão. Então pensei: “Vamos ver no que dá”.
Os filhos, Akira e Shuichi (em pé, da esq. para a dir.), com os pais, após 10 anos no BrasilDepois de dois ou três anos aqui, eu pensava: “Será que foi um erro?”. Quase tudo o que ganhávamos era gasto em despesas alimentares. Não quisemos investir tudo na compra de um sítio logo que chegamos porque não éramos agricultores. Não podíamos gastar tudo. O Brasil era um país tranqüilo, de vida próspera, mas na época – em que Brasília estava sendo construída – era difícil juntar dinheiro. Após um tempo, recebi o fundo de guerra. Foi uma surpresa. Não imaginava que receberia algo, pois o Japão havia perdido a guerra e a economia continuava ruim. No início, era pouco dinheiro, mas, com o tempo, o iene ficou mais forte. Trabalhei na lavoura por 8 anos no Paraná e 5 em São Bernardo do Campo (SP).
“Na época, meus dois filhos tinham 11 e 9 anos. Queria que eles tivessem condições de estudar, ter uma vida digna e fazer faculdade. Como já havia muitos japoneses aqui, imaginamos que seria melhor educá-los no Brasil”
Em minha opinião, o Brasil é o melhor lugar do mundo. Não dá para viver em outro país da mesma forma que se vive aqui. Sinto-me muito feliz. Nasci pobre, cresci com dificuldades e lutei na guerra. Isso, de alguma forma, fez com que eu viesse para o Brasil, um país que me proporcionou uma vida fantástica. Hoje, desfruto muita saúde e uma família maravilhosa, e o país contribuiu para isso. Agradeço ao meu país de origem e ao Brasil. Fico feliz por ter duas pátrias.
Matéria publicada na edição #65 da Revista Made in Japan