Cidade subterrânea
Ao final de um dia sob a terra, pude constatar que, para quem tem um tempinho a mais antes de um compromisso, os chikagais são a perfeita combinação entre lazer e locomoção. Além de evitar que as pessoas se molhem nos dias de chuva, também é uma ótima saída para driblar o intenso movimento das ruas. Mas isso não significa que se possa fugir por completo das multidões. Mesmo nos chikagais, você pode ser atropelado por alguém mais apressado. Por isso, cuidado!
Nos subterrâneos, é possível comprar cartões-postais, jornais e revistas japoneses
Para chegar à superfície, há placas indicativas nos corredores das galerias. É aconselhável lê-las atentamente, para não seguir pelo corredor errado. Você pode acabar saindo em uma região totalmente oposta à qual pretendia chegar.
No meu caso, desci ao chikagai e retornei ao bairro de Komagome pela linha de metrô Namboku. Terminei meu dia em grande estilo, voltando pelo subsolo, é claro.
Curiosidades do centro da Terra
Os subterrâneos interligam as estações de trem e metrô: conforto sob a terra1 – O Japão é um dos poucos países que enterra seu estoque de petróleo. Graças a essa reserva subterrânea, o país é um dos únicos no mundo nos quais o preço da gasolina não oscila, mesmo durante conflitos no Oriente Médio.
2 – Em casos de terremoto, as construções subterrâneas são
mais seguras, porque o tremor é menor debaixo da terra.
3 – Existem mais de 80 galerias subterrâneas espalhadas por todo o país, somando um total
de quase 1,07 mil quilômetros construídos.
4 – A Nagahori Chikagai é a galeria mais extensa do Japão. Ela fica em Osaka e tem 81 quilômetros, divididos em quatro andares subterrâneos.
5 – A Biblioteca Nacional de Tokyo está localizada em Nagatacho. Tem 8 andares subterrâneos, os quais chegam a 30 metros de profundidade. Além de economizar espaço na “cidade de cima”, a construção da biblioteca no subsolo tem outro motivo: a temperatura. Ela foi construída dessa maneira para garantir uma temperatura mais baixa, propícia para a conservação dos livros.
Dos terminais de Correios que estão no subsolo, Yayoi envia os postais para o BrasilCrescimento para baixo
Em um país 23 vezes menor que o Brasil e que tem uma população de 127,3 milhões de habitantes, não é de se admirar que todos os espaços sejam aproveitados e, mais ainda, que novas áreas sejam criadas como alternativas para a expansão das cidades.
Diante desse fato, os japoneses não tiveram dúvidas: decidiram, literalmente, crescer para baixo.
O aproveitamento do subsolo foi uma das maneiras encontradas para facilitar a vida dos moradores dos grandes centros.
Lojas de importados e produtos tropicais fazem a festa das mulheres japonesasAs galerias subterrâneas se formam ao redor das maiores e mais movimentadas estações de trem e metrô. A primeira galeria, a Sudacho, surgiu em 1932, próxima à estação de Kanda, em Tokyo. O espaço ainda existe, embora atualmente não seja mais usado pelo comércio.
Feiras de luxo
Os andares do subsolo das lojas de departamentos são utilizados para a venda de produtos alimentícios. Eles são chamados de depachitas e estão se especializando cada vez mais em oferecer alimentos de alta qualidade.
A grande variedade e o nível dos produtos são reconhecidos por revistas e pela mídia nipônica.
Misto de passagem e centro de compras, as galerias fazem parte da vida dos japoneses“No subsolo, o transporte e o descarregamento tornam mais fáceis a reposição diária de produtos”, explica Sachiko Shindou, gerente da loja de departamentos Keio, do bairro de Shinjuku, região central de Tokyo.
“Na nossa loja, um dos produtos que têm mais saída são os obentôs, comida pronta, principalmente no horário do almoço, e por isso procuramos oferecer a maior variedade possível”, completa Shindou.
Venda de peixes no chibuchika de Shinjuku: produtos variados e de qualidadeNo Japão, quem é dono de uma área, possui não somente a superfície, mas também a profundidade.
Porém, em breve, com a aprovação de uma nova lei sobre os espaços subterrâneos, esse sistema vai sofrer uma mudança drástica.
De acordo com pesquisadores do Centro de Pesquisa para o Uso e Desenvolvimento Subterrâneo, a nova lei permite que espaços localizados a mais de 40 metros da superfície sejam usados para as construções públicas.
“Até o ano passado, os proprietários do terreno tinham direitos ilimitados quanto à profundidade, mas agora o governo autoriza o uso dos espaços abaixo de 40 metros da superfície”, explicou Tamura Akira, diretor do Departamento de Pesquisas Tecnológicas do Centro de Pesquisas para Uso e Desenvolvimento Subterrâneo.
A principal utilização desses espaços deve ser para o transporte, um dos maiores problemas dos centros urbanos do país.