A última pioneira
A japonesa Tomi Nakagawa, 91 anos, é a única pessoa ainda viva da primeira leva de japoneses que chegou ao Brasil a bordo do navio Kasato Maru, em 1908. Sua história é tão importante que o Imperador Akihito, quando visitou o Brasil em 1997, fez questão de encontrá-la. No depoimento abaixo, dona Tomi revela trechos dos árduos primeiros anos da imigração.
“Vivi a maior parte da vida sempre em sítios e fazendas. Trabalhava todos os dias, menos aos domingos. Na venda, quando queriam algo, eles apontavam com o dedo. Um dia, um japonês ficou irritado com o ‘vendeiro’, que não entendia nada do que ele falava. Xingou o homem de bakayaroo (bobo). O ‘vendeiro’ entendeu que o japonês queria bacalhau! Então, o japonês levou o bacalhau para casa e contou para os amigos que, quando quisessem comprar aquele peixe salgado, era para xingar o ‘vendeiro'”,
“Como todos os japoneses, meus pais foram com esperanças de trabalhar bastante para ficar ricos logo e voltar para o Japão. O Kasato Maru saiu do porto de Kobe e levou 52 dias para chegar ao Brasil. Levava as bandeiras do Japão e do Brasil hasteadas e cada passageiro tinha uma bandeira do Japão.”
“Meus pais trabalhavam de escuro a escuro. Apesar disso, colhiam pouco porque não tinham prática de colher café. As mãos ficavam doloridas, inchadas e esfoladas, pois na época não havia luvas, mas eles precisavam continuar o trabalho até o sol se esconder, até que não desse para enxergar mais nada. Todo mundo trabalhava muito, mas ainda assim o dinheiro mal dava para a comida. Quando me lembro dessa época, choro muito. Foi muito duro”.