Afeto Dobrado
E foi num domingo, quando tinha lá meus nove anos de idade que conheci o origami. Ainda é muito fresco e saudoso na memória o dia em que meu avô paterno reuniu todas as netas em volta da mesa da sala. Sem dominar a língua portuguesa, ele, em silêncio, começou a dobrar os papéis, e nós, ingênuas e curiosas crianças, repetimos suas dobras. Uma dobra aqui, outra ali, e nos surpreendemos com o tsuru que fizemos com ele. Jamais esqueci aquele origami.
Nostalgicamente, meu avô, um imigrante japonês que viveu mais de noventa anos, quando era jovem, fazia singelos origamis para enfeitar e presentear as pessoas. Que bem provável aprendeu a arte com um de seus entes queridos, com inalterável afetividade.
Trabalhar com uma arte reverenciada por muitos, resgatar sentimentos e momentos singulares da infância, dobrar novos momentos é, seguramente muito especial. Assim como conservar, reinventar e prosperar o origami, é peculiar. Visto que “ a possibilidade de criação a partir do papel é infinita” e “o origami é um diálogo entre o artista e o papel” (frases de Akira Yoshizawa).
A minha esperança é que este afeto se desdobre, e o origami seja compartilhado e curtido com o coração das pessoas, que fique também “instangrado” nas nossas doces memórias e “twittado” com sentimentos genuínos.
Adriana Suzuki faz origamis para casamentos, maternidade e outros eventos comemorativos