Carlos Ribeiro e a culinária japonesa
Em 2008, o paraibano Carlos Ribeiro foi o único chef não-descendente de orientais convidado a dar workshops sobre gastronomia japonesa no Centro de Convenções Anhembi, em São Paulo, em evento das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil. A atividade reunia, além de Ribeiro, um time de feras: Adriano Kanashiro, Shin Koike, Jun Sakamoto e Carlos Watanabe. Este ano, o chef nordestino de alma oriental lança um livro de receitas nipônicas.
“Culinária japonesa para brasileiros”, da PubliFolha, foi lançado em Recife (PE), sexta-feira 16, no restaurante Sushi Yoshi. O livro traz 50 receitas típicas provenientes de diferentes regiões do Japão, algumas delas elaboradas por Masayoshi Matsumoto, chef e proprietário do Sushi Yoshi.
O diferencial do livro é que os ingredientes foram adaptados para produtos que são encontrados com facilidade no Brasil. O chef concedeu uma entrevista ao site Made in Japan.
Entrevista – Carlos Ribeiro
Por que “culinária japonesa para brasileiros”? O que diferencia a culinária japonesa feita no Brasil?
Assisti a uma palestra do chef Ayao Okumoto, em 2007, e entendi que temos de fazer a cozinha com os ingredientes do Brasil. Na hora, não gostei muito do que ele disse – que nosso peixe e nosso shoyu não eram bons. Ele, porém, nos desafiou a fazer uma cozinha nipo-brasileira, e isso me motivou. Ele nem sabe (risos). Os ingredientes no Brasil não são iguais em sabor e textura. Lá, as estações são bem definidas. O clima é diferente, e isso modifica o sabor dos vegetais. Aprendi com o Ayao que nosso shoyu é salgado. Quando estive no Japão, o tomate e o açúcar eram diferentes. E não podem ser iguais mesmo.
Quando começou a se interessar por gastronomia japonesa?
Nasci em João Pessoa, na Paraíba, e lá havia poucos japoneses. Os primeiros que conheci, em 1972, foram a família Adachi. Estudei com os filhos e comecei a me interessar pela comida, quando ia à casa deles. Desde 1993, moro em São Paulo e decidi estudar japonês no Bunkyo da Vergueiro. Me interessei também pela música, descobri as cantoras Utada Hikaru e Misora Hibari. Quanto à culinária, comecei a estudar por conta, lendo livros de cozinha, na intuição. Depois, a Sra. Shizuko Yasumoto (minha grande inspiração) me levou a sua escola e orientou sobre as técnicas necessárias para começar a entender esta cozinha tão fantástica e sutil. Em 2000 e 2003, visitei as principais províncias japonesas, dei alguns cursos na Universidade de Osaka, como convidado, e fiz outros também. Quando retornei, fui ter aulas com o chef Takeshi Amano da escola Amano, e isso me impulsionou.
Como é sua relação, hoje, com a comunidade japonesa no Brasil?
Cozinhei durante 19 seções no evento oficial da vinda do Príncipe Naruhito ao Brasil. Também fui apresentador de uma série de programas produzidos pela Japan Fundation e JBNTV, chamado Saber Sabores do Japão. Fiz 10 matérias visitando as principais colônias nipo-brasileiras pelos quatro cantos do Brasil. Para uma revista, fiz um especial em que mostrei os pratos que foram servidos no jantar oferecido ao príncipe no Palácio Bandeirantes. Há um ano, tive o prazer de conhecer o sr. Masayoshi, chef do Sushi Yoshi, que, naquele ano, fazia um festival de cozinha japonesa de todas as regiões do Japão. Pensei, na hora, que o livro deveria ser escrito a quatro mãos. Juntando as viagens ao Japão com as viagens pelas cozinhas japonesas do Brasil, tive material que resultou neste trabalho. Minha relação com a comunidade nipo-brasileira é muito especial. Sou querido por mostrar interesse pela cultura, que é tão oposta à minha de origem. Não existem fronteiras na cozinha. Fico muito feliz quando as pessoas me reconhecem pelo programa que fiz na JBNTV e me cumprimentam. Sinto-me japonês também.
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