Oshougatsu: O Ano-novo japonês
Nada de roupa branca, abrir champanhe ou pular sete ondas. O oshougatsu, Ano-Novo japonês, é diferente do réveillon ocidental.
O Ano-Novo japonês, oshougatsu, é a comemoração mais importante do calendário do arquipélago. Além da passagem do ano velho e chegada do novo, a festa continua por mais três dias ou até uma semana. O comércio, os bancos e as empresas fecham suas portas em um feriado nacional. Mas engana-se quem imagina que os nipônicos celebram esse réveillon vestidos de branco, bebendo champanhe ou pulando sete ondas em uma praia para depois cair na folia em um Carnaval fora de época, como ocorre no Brasil.
Muitos japoneses até se dirigem às praias mais famosas do arquipélago, como a ilha de Odaiba, em Tokyo, para ver shows de artistas de J-pop ou danças tradicionais, em uma festa que normalmente termina com uma modesta queima de fogos. Considerado sagrado pelos japoneses, o oshougatsu é, acima de tudo, uma data reservada para que a pessoa possa se purificar, fazer orações e dar boas-vindas ao ano que se inicia.
Conheça a seguir os principais costumes japoneses do oshougatsu. Mas antes uma curiosidade: em vez de saudar o futuro, como os ocidentais fazem ao dizer “Feliz Ano-Novo”, os japoneses agradecem pelos favores obtidos no ano que está terminando, dizendo: “Akemashite omedetou gozaimasu!”
Um mês antes
A limpeza que purifica
A preparação para o oshougatsu começa cedo. Em novembro, as donas de casa japonesas fazem verdadeiras faxinas em suas residências, que chamam de oosouji, uma espécie de purificação. Acredita-se que é preciso entrar no novo ano com tudo limpo. Algumas aproveitam para colocar tatamis novos nas casas e trocar o papel utilizado nas divisórias ou portas corrediças (shouji). A limpeza se estende às empresas, e os funcionários são convocados para, em mutirão, dar uma geral no ambiente de trabalho. Também é costume fazer uma limpeza no segundo dia do ano.
Na véspera
Noite de 31 de dezembro. Em todo o Japão, é possível ouvir os sinos dos templos entoando as 108 badaladas para recepcionar o Ano-Novo. A cerimônia, conhecida como joya no kane, relembra os japoneses dos 108 pecados existentes no homem, segundo o budismo. Mas não são somente os budistas que aderem a essa tradição. Para a maioria dos japoneses, é hora de buscar a purificação e saudar o ano que chega.
As refeições de ano-novo
Osechi-Ryouri, do Bistrô Kazu
A refeição de Ano-Novo é o osechi-ryouri, um banquete especial que inclui diversos pratos preparados antes das festividades, dispostos em uma caixa de madeira laqueada (juubako).
O principal prato é o ozouni, uma sopa à base de mochi, vegetais, frutos de mar e, às vezes, carne. Quem come o ozouni no oshougatsu terá sorte e a graça dos deuses durante o ano. Uma lenda levada pelos chineses ao arquipélago há mais de mil anos afirma que quem comer mochi no Ano-Novo estará comendo o espírito do arroz, enriquecido pelos deuses.
O bolinho de arroz que compõe o prato é oferecido aos deuses antes das comemorações do oshougatsu.
No oshougatsu, não pode faltar o kagamimochi. Feito de dois bolos de arroz (mochis) dispostos um sobre o outro e decorados com papel japonês, folhas de matsu (semelhantes a folhas de pinheiro) e daidai (espécie de laranja nipônica), o kagamimochi é colocado sobre um altar como forma de agradecimento aos deuses budistas e xintoístas, especialmente Toshigami, o deus que, segundo a lenda, costuma visitar as residências no Ano-Novo.
Boa sorte e proteção
Enfeite que simboliza a boa sorte e a proteção das casas contra o mal, o heisoku é uma dobradura sem corte confeccionada em papel japonês (washi). Ele deve ser feito pelo chefe da casa ou, na falta desse, pelo primogênito. As mulheres não podem fazê-lo, pois isso poderia gerar ciúmes na deusa Amaterasu, a quem é dedicado.