IBGE traça perfil dos imigrantes
Por que há japoneses plantando maçãs na Bahia, em plena Chapada Diamantina? Há relação entre o fenômeno dekassegui e o número de crianças e adolescentes japoneses no País? Por que a chegada dos primeiros 761 imigrantes foi denominada como um “ensaio” pelas autoridades do início do século 20?
Para responder estas e outras perguntas traçando um panorama da situação dos japoneses e descendentes no País, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou o livro Resistência e Integração: 100 anos de Imigração Japonesa no Brasil, que reúne dados dos oito censos realizados com a comunidade japonessa no Brasil desde o ano de 1920.
De acordo com a pesquisadora, e uma das organizadoras do livro, Célia Sakurai, a análise de simples números pode revelar muito sobre a história da imigração japonesa no Brasil. “É possível fazer um cruzamento que apresenta um painel histórico e atual sobre os imigrantes”, diz Sakurai.
Nas 179 páginas do livro, que é dividido em dez artigos de 16 pesquisadores e técnicos do IBGE, é possível verificar a evolução do número de imigrantes japoneses em cada Estado. A exatidão permite perceber, por exemplo, que em 2000 viviam em São Paulo 51.372 imigrantes, enquanto que, em Alagoas, eram apenas oito. “Os movimentos que afetaram os brasileiros, como os retirantes vindos do Nordeste em direção ao Sul do Brasil, atingiram também os japoneses que viviam no local”, afirma a pesquisadora.
Para se ter uma idéia dessa situação, basta analisar os dados de retirantes japoneses que vieram dos Estados do Pará, Maranhão e Ceará, nas décadas de 1980 e 1990.
De acordo com estes, a população de nikkeis dos Estados em questão diminuiu 36% em 11 anos, passando de 69.122 para 44.191. “É comum que a população em geral veja as comunidades de imigrantes japoneses como algo à parte, alheio aos movimentos migratórios do Brasil. No entanto, os números mostram que eles estavam não só se adaptando, mas também respondendo ao contexto histórico em que viviam”, apontou Célia.
Todos os números de nikkeis, em cada Estado do Brasil, também estão na publicação. De acordo com o estudo, em São Paulo, a maior comunidade nikkei do mundo, vivem 693.495 nikkeis, 49,3% dos 1.405.685 totais do País.
O segundo Estado “mais japonês” é o Paraná, com 143.588 nikkeis. Há também mapas de migração interna que mostram que, até os anos 1960, atrás de São Paulo e Paraná vinha o Rio. Contudo, hoje, o Estado caiu para quinto lugar, atrás de Bahia (78.449) e Minas Gerais (75.449).
O levantamento do IBGE também contempla a questão dos dekasseguis por meio da análise da imigração para o Brasil em tempos atuais. Para os pesquisadores, perceber que de 1991 para 2000 a proporção de crianças e adolescentes japonesas, de 0 a 14 anos de idade, no País saltou de 0,6% para 4% é uma mostra clara de que se tratam de filhos de dekasseguis.
Mas não é somente em números que o livro se baseia. Também há documentos que mostram o contexto no qual estava inserida o movimento de imigração do Japão para o Brasil. Um exemplo é uma declaração de 1907 da Secretaria dos Negócios da Agricultura de São Paulo que esclarece as razões para o apoio à vinda dos japoneses.
O livro foi lançado no Brasil terça-feira 17 em português e inglês. Também foi feita uma versão totalmente em japonês e que seriai oferecida como presente ao príncipe-herdeiro Naruhito em sua visita ao País.