Sumiê – a arte em preto-e-branco
Acima, estão as famosas montanhas e paisagens do mestre Sesshu
São Paulo – O pincel, erguido perpendicularmente ao papel de arroz, o washi, quase forma um ângulo de 90 graus com a mão do artista, que desliza pinceladas precisas e definitivas. A concentração é extrema. Os dedos permanecem quase imóveis, enquanto o braço se movimenta sem se apoiar na mesa de trabalho. Visto dessa forma, o suiboku-ga, a milenar pintura japonesa conhecida como sumiê, mais parece um sacrifício para as articulações e os tendões humanos. Para os pintores treinados na tradição oriental, porém, esse é um caminho natural e espontâneo, que resulta numa das mais belas formas de arte do arquipélago.
A palavra sumiê significa “pintura a tinta” em português, e consiste numa técnica de pintura em preto-e-branco originada em mosteiros budistas da China durante a dinastia Sung (960-1274). Levada pelos monges zen ao Japão a partir do século XIV, o sumiê tinha essencialmente temáticas religiosas que representavam elementos budistas, como o círculo, que indica o vazio interior, ou da natureza, como as rochas e a água.
Para o artista, o mais importante é retratar a essência do elemento a ser pintado, e não a mera reprodução de sua aparência exterior. Adotando esses princípios, o sumiê exerce uma dicotomia interessante. Preto-e-branco, concreto e abstrato, água e terra, controle e espontaneidade são manifestações presentes nessa arte, que, a partir do século XV, passou a retratar também pássaros, flores e paisagens. Alguns dos artistas mais importantes do sumiê são datados desse período, destacando-se Sesshu, o primeiro a criar uma linguagem peculiarmente japonesa para o estilo.
Abaixo, as obras de Eitoku Kano, de Sesson Shoukei, de Soukei Oguri, do samurai Niten Miyamoto e de Shohaku Soga, as quais refletem uma arte inspirada no despojamento do zen-budismo e nos elementos da natureza – clique nas imagens abaixo para ampliá-las: