Japão com cara de Brasil
Atualmente, já é possível estar no Japão e manter os hábitos brasileiros, graças aos 220 mil dekasseguis que moram na ilha japonesa. Por conta deles, quem esteve uma temporada no país sabe que existem verdadeiras cidades brasileiras em solo japonês. Nem mesmo nos Estados Unidos, onde há o dobro de imigrantes do Brasil, vê-se tantas lojas com produtos brasileiros sendo vendidos como no Japão. Virou até um costume perguntar a quem está de malas prontas o que vai comer no outro lado do mundo. A maioria desconhece que só passa a peixe cru quem quer. Mais surpreendente que os verdadeiros mini-mercados onde se vende de farinha de mandioca a roupas, é a infraestrutura que foi criada para os brasileiros. Um exemplo que ilustra bem isso é o do aluguel de telefone. À base da propaganda boca a boca, chega-se a escritórios com atendimento feito por brasileiros. E, mais tarde recebe-se, em casa, a listagem das ligações escrita em português.
Dá para passar um dia inteiro como se estivesse no Brasil. Acordar de manhã ouvindo CD do Titãs, almoçar feijoada preparada em casa, ver fita de vídeo com novela das oito e tomar cafezinho com cheiro e gosto brasileiro. À noite, depois de uma parada em barzinhos para tomar cerveja Brahma e Antarctica, o dia amanhece nas pistas de dança de discos que tocam de samba a música sertaneja. Programas idênticos a esses podem ser feito nas cinco maiores províncias com brasileiros no Japão, que incluem Aichi, Shizuoka, Kanagawa, Gunma e Saitama.
As famílias de dekasseguis também não têm muito com o que se preocupar. As mães deixam seus filhos menores em creches, como se fosse no Brasil, e vão para a linha de montagem da fábrica. Quando termina o trabalho, tanto podem levar a filha mais velha para estudar português em escolas administradas por brasileiros como passar o tempo lendo para ela qualquer gibizinho da Turma da Mônica. Quem não mora perto das cidades onde está concentrada a maior parte dos estabelecimentos, nem precisa se preocupar. Há caminhões que, durante dias específicos da semana, circulam com tudo o que se pode encontrar numa loja comum.
Como brasileiro não vive só de trabalho, até se importou o Carnaval, com grupos de samba que desfilam uma vez por ano. Mas, com um detalhe: todas escolas são formadas por quem está morando no Japão. As três maiores festas acontecem nas cidades de Oizumi, Kobe e Tokyo, com público mesclado de estrangeiros e japoneses que se divertem com a típica farra nacional. É tanta presença brasileira no Japão, que o japonês Saito Kenichi, de Oizumi, reclama da invasão verde-amarela: “Me sinto um estrangeiro na minha própria cidade”.