Exposição de Chiharu Shiota no Brasil
A artista japonesa ganhou sua expressão máxima como representante do Japão na 56ª Bienal de Veneza (2015) e apresenta no Brasil três instalações de grande escala para interação com o público.
São obras temáticas que permeiam a ideia de trajetórias e relações invisíveis entre as pessoas que revelam histórias com extensas tramas de fios e objetos cotidianos.
A obra “Além dos continentes” abre caminho para o percurso expositivo logo na entrada do Sesc, com 300 pares de sapatos usados e que foram doados pelo público brasileiro especialmente para a montagem da obra. “As linhas”, explica a artista, “ligam todos os objetos para um mesmo ponto de partida e representam extensões do corpo humano”. “Os sapatos conectam vários caminhos, vários trajetos físicos ou mentais, de migração, percursos do cotidiano e a cor vermelha simboliza o sangue, o ser humano”, explica a Shiota à Made in Japan.
A segunda instalação “Acumulação” traz ao hall do piso térreo uma nuvem de malas penduradas no teto que flutuam sobre as escadas rolantes. Algumas delas possuem sensores de movimento que as fazem vibrar e “também representam os movimentos migratórios”, explica a curadora da exposição Tereza Arruda.
No segundo andar do prédio, o espaço “Cartas de agradecimentos” nasceu como um impulso de gratidão da artista por pessoas e contextos pessoais variados, numa tentativa de estimular as pessoas a transporem em palavras sentimentos que, normalmente, são difíceis de verbalizar.
“O preto das linhas é para trazer profundidade, remete ao universo, a uma conexão profunda”, conta Shiota. Proposta de modo a transmitir ao visitante a sensação de acolhimento, a obra ocupa todo o espaço expositivo, surpreendendo-o logo na entrada devido à complexidade da trama construída com as 2 mil cartas coletadas junto ao público brasileiro. As únicas exigências para a participação foram que as cartas fossem manuscritas e expressassem mensagens de agradecimento, independentemente do motivo. Durante a exposição, as cartas poderão ser lidas pelo público.
Uma das ações de coletas de cartas foi feita no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, conhecido como o bairro oriental da cidade. A região concentra comércios orientais e foi um dos primeiros redutos de imigrantes japoneses na cidade.
Ao organizar a coleta de cartas e sapatos, Shiota pretende conectar-se às pessoas e se comunicar com uma linguagem própria. “Quero que as pessoas possam participar da obra, não só apreciar como fariam com uma pintura, por exemplo”. “E ainda que seja uma obra temporária”, continua, “quero que seja impactante, uma experiência única para que permaneça na memória de cada um”.
A exposição fica aberta ao público até janeiro de 2016, no Sesc Pinheiros.
Clique nas miniaturas para visualizar a imagem completa
Trajetos de Chiharu Shiota
A exposição da artista japonesa também traz um caráter autobiográfico que remete à sua história de idas e vindas.
Natural de Kishiwada, Osaka (mesma cidade da renomada estilista Junko Koshino), Shiota se mudou para Kyoto, para estudar na Kyoto Seika University, fez intercâmbio na Austrália, e vive há quase vinte anos em Berlim.
“Eu ainda era muito jovem, tinha 23 anos, e é muito difícil se tornar um artista no Japão. Decidi estudar um pouco mais, na Alemanha”, conta. Depois de uma trajetória internacional com mostras nos Estados Unidos, Espanha, Ucrânia, Rússia, Itália e Coreia do Sul, finalmente ganhou reconhecimento em seu país de origem.
Hoje, Shiota representa o Japão na 56ª Bienal de Arte de Veneza, uma das mais importantes exposições para um artista contemporâneo.
Exposição Chiharu Shiota – Em Busca do Destino
Quando: 12 de setembro de 2015 a 10 de janeiro de 2016
Onde: Sesc Pinheiros
Endereço: Rua Paes Leme, 195. São Paulo–SP
Quanto: Gratuito
Informações: www.sescsp.org.br/programacao