Maternidade e carreira profissional, é preciso fazer escolhas
“Quando voltei para o Brasil, aos 29, montei com alguns sócios uma empresa de consultoria para bares e restaurantes. Posteriormente, lecionei na Universidade Anhembi Morumbi, onde trabalhei por oito anos e sou muito grata.”
Foi nesse tempo que os dois filhos nasceram. “Tive a Clara aos 36 e o Theo aos 38. Fui mãe tarde [hoje tem 43]. Não me arrependo, pois foi na hora certa. Tinha boa formação, experiência internacional e minha carreira estava bem encaminhada.”
Terceiro filho
Valéria é casada com o chef Daniel Hirata. Eles se conheceram quando ele era chef executivo do restaurante Mori Ohta Sushi, para o qual a empresa de Valéria realizou o treinamento da equipe e assessoria.
Ela conta que ambos, individualmente, sempre quiseram ter o próprio negócio. “Com nosso casamento, esse projeto ganhou vida. Conversamos e idealizamos cada detalhe enquanto tínhamos nossos empregos. Primeiro casamos, tivemos a Clara, o Theo e só depois o Hirá. Nada foi precipitado.”
Sem sócios, sem plano B
O Hirá Ramen Izakaya foi inaugurado em dezembro de 2015, no bairro de Vila Madalena, em São Paulo. Valéria cuida da administração, incluindo financeiro, RH, marketing e controle de qualidade. “Exceto a cozinha, faço de tudo. Não raro, vai me encontrar tirando pedidos e servindo mesas também. Ainda tenho que encaixar reuniões da escola, médico, dentista, supermercado, festas de amiguinhos, entre outros compromissos que surgem.”
O casal optou por não ter um sócio-investidor. “[No início] A maior dificuldade veio da nossa principal certeza: não queríamos sócios. Fomos muito bem orientados por um assessor financeiro. Abrimos com capital próprio e praticamente sem capital de giro. Foi difícil, mas hoje é uma das forças do negócio. Não precisamos prestar contas a ninguém, e as decisões são tomadas muito rapidamente.”
Segundo Valéria, outra força é não ter plano B. “Dessa forma, colocamos cada gota de energia no Hirá. Até porque a criação de nossos dois filhos depende do sucesso da empresa. Foi uma aposta de altíssimo risco. Nossa família não hesitou em ajudar porque sabia que tínhamos o necessário para fazer o negócio dar certo: conhecimento, experiência e perseverança.”
“Ser uma mãe ocupada exige que sejamos práticas e que façamos escolhas. Naturalmente, não consigo ir a todos os eventos. Semana que vem temos uma reunião sobre alfabetização, e nessa com certeza irei. Acho que sou uma mãe bem presente no fim das contas. Já me senti culpada por não conseguir cumprir toda a agenda social dos meus filhos, mas hoje vivo sob o slogan ‘faço o que posso’ e é verdade. Ambos trabalhamos e criamos nossos filhos. O Daniel é um pai presente e carinhoso. Amo demais meus filhos, mas não abro mão de realização profissional.”
A família também mora na Vila Madalena, assim como a escola dos filhos. “Organizamos nossa vida toda no bairro, e isso ajuda demais. Há algum tempo, estávamos sobrecarregados com o restaurante e tínhamos duas babás diferentes. As crianças passavam grande parte do tempo longe de nós. Ficaram muito irritadas e agressivas. Reestruturamos nossa rotina para estar mais tempo com elas. Tentamos tirar a terça de folga e sair à noite. Estão infinitamente mais tranquilos.”
Trabalhar com o marido pode ser uma fonte de desgaste. “Às vezes, acabamos falando demais do trabalho. Temos pontos de divergência e personalidade forte. Por outro lado, o admiro como pessoa e como profissional; gosto de trabalhar ao seu lado. Se apenas um tocasse o restaurante, passaríamos muito tempo longe um do outro, e isso eu não gostaria. Eu o conheci em um restaurante, e nossa história está ligada a esse mundo.”
Para quem quer empreender em gastronomia, Valéria alerta: “Entre muito consciente de onde está se metendo. Talvez trabalhar em algum negócio, antes de abrir o seu, para experimentar as longas jornadas de trabalho, a ausência de finais de semana e os sacrifícios. Não estaria sendo honesta se dissesse simplesmente ‘vá em frente’. É muito difícil, sim. É uma área muito dura e com pouco glamour, ao contrário do que as pessoas acreditam e a mídia por vezes transmite.”
Saiba mais: www.hiraramenizakaya.com