Papo com Adegão: Atendimento
Uma coisa que me tira do sério é a falta de tato e empatia um com o outro. Principalmente quando se trata de relacionamento com o cliente. Mais parece que a casa está “fazendo um favor” para o consumidor. Em restaurantes pelo Brasil, mais me estresso que tenho prazer.
Como dizia o meu amigo Julio Bernardo, você vai a um restaurante para se restaurar. Seja para se alimentar ou para curtir e relaxar.
Estive recentemente no Japão e, quase no final da minha viagem, perambulando nas estreitas ruas próximo do Templo Suitengu, achei um izakaya bem charmoso onde vários engravatados entravam e saiam. Berros e risadas saltavam à medida que a porta abria e fechava. “É ali que quero entrar”, pensei.
Sentei-me ao balcão, de frente para o vidro que me protegia da grelha de yakitori. É comum, pelas leis japonesas, ser permitido fumar dentro dos botecos japoneses, por isso, os cinzeiros limpos ficavam ao lado dos molhos, saleiros e paliteiro.
Havia quatro mesas no salão e, ao fundo, uma sala de tatami para 16 pessoas. O balcão acomodava 12 pessoas, mas estava vazio para a minha sorte. Apesar do compacto comércio, cabia bastante gente, ainda mais para um staff de três pessoas. Isso mesmo, só três pessoas para atender a todos. Perdão, não fui claro: eram dois na cozinha e um no salão.
Eu logo vi no que ia dar. Clientes reclamando da demora, pratos errados ou trocados. Só que, por um momento, volto a lembrar de quando estava na porta. Todos pareciam se divertir. Então, paguei para ver.
Fiquei esperando para ser atendido, quando a única moça veio correndo com o menu. Um japonês com sotaque não japonês. Era uma chinesa e o curioso é que, apesar de falar bem, trocava o “R” pelo “L”.
Mesmo com a correria e com a minha atenção voltada para o salão, a simpática moça me explicou direitinho a sugestão da casa. Ou seja, o próprio cliente entrou na dança e começou a ter uma empatia com ela. Para evitar chamá-la o tempo todo, pedi tudo de uma vez. Uns cinco pratos que queria experimentar.
Acendi o meu cigarro e voltei o olhar para a cozinha. O espaço era um pouco mais longo que o de um food truck. O dono e seu assistente preparavam de tudo, do frio ao quente. Eles se comunicavam tão bem quanto marujos em um submarino, repetindo as ordens. Isso sem esquecer de cumprimentar os clientes. Dava gosto de vê-los trabalhando.
Os pratos, que vinham aos poucos, eram extremamente saborosos e o último deles, um jogo de seis yakitoris foi servido pelo próprio cozinheiro. Ele viu que a moça estava atendendo a três mesas ao mesmo tempo, cobrando as contas e ainda abrindo e fechando a porta, e me entregou o prato.
Sabe quando nós, como clientes e vendo tudo isso, perdoamos qualquer erro ao vê-los se matando para oferecer um bom atendimento? Acho é por causa disso que não vi nenhuma cara feia durante o tempo que fiquei nesse saboroso izakaya. Muito bom!