O café brasileiro e as cafeterias orientais
Que o café brasileiro faz sucesso no mundo todo, não é novidade. Mas você sabia que um dos maiores mercados consumidores do nosso café está do outro lado do mundo?
No primeiro semestre de 2017, o Japão destacou-se como o quarto maior importador do café brasileiro, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, Alemanha e Itália. Além disso, Coreia do Sul e Taiwan apresentaram um crescimento significativo em consumo e importação dos grãos.
Nos últimos cinco anos, a Ásia e a Oceania apresentaram a maior taxa de crescimento no consumo de café no mundo, subindo 4,5% enquanto a média mundial cresceu em 1,9%, segundo relatório da Organização Internacional do Café (ICO).
Todo esse mercado é abastecido principalmente pelo Brasil, que é o maior produtor de grãos arábica do mundo. De acordo com o relatório do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), no último ano (entre setembro de 2016 e agosto de 2017) o Brasil chegou a exportar mais de 32 milhões de sacas de café, convertidas em uma receita de US$ 5,5 bilhões.
Num mercado cada vez mais exigente, não é só a quantidade que chama a atenção. Os produtores brasileiros foram se desenvolvendo ao longo dos anos e melhorando a qualidade dos grãos. Não é à toa que os selos de grãos premiados e reconhecidos no mercado internacional só crescem no Brasil. Para a especialista em cafés Júlia Souza, o nosso grão tem sido mais valorizado porque o Brasil tem uma grande variedade de microclimas e, com o trabalho dos microprodutores, é possível obter diversos sabores. “Antes tínhamos um café mais padronizado, mas hoje temos uma diversidade grande de produtores, de cafeterias e de gente querendo entrar no mercado de cafés especiais”, comentou Júlia, que ministra os cursos de formação profissional na Academia do Café, nos espaços de treinamento em Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP).
Ainda de acordo com a especialista, antigamente, nosso café era visto como exclusivo para fazer misturas, mas hoje esse cenário vem mudando também por conta da exigência do mercado. “As pessoas estão buscando mais qualidade e mais informação sobre o que consomem”, continua, “e isso incentiva mais pessoas a conhecerem os cafés especiais, por isso, acredito que quanto mais cafeterias surgirem, melhor”.
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Qualidade e preço
Se tem mais gente querendo falar de qualidade, a tendência é que se pague um preço justo pelo produto. Quando o assunto é café especial, é importante lembrar de tudo o que vem por trás daquela xícara de café, que envolve muita gente e muito trabalho.
Nesse sentido, a sócia da Academia do Café, Débora Souza, observa que uma das características do mercado japonês é o alto nível de exigência ao avaliar a qualidade do café para importação. “O japonês só compra o filé do filé, ele consegue vir e tirar a nata do café brasileiro e paga muito bem”, explica Débora. “O nível de exigência em relação a agrotóxico e qualidade é muito alto. Quando o café chega no Japão ele é todo examinado, é classificado em níveis de aceitação em relação a agrotóxicos e, se não estiver de acordo com os padrões, ele não entra no país, é rejeitado e volta ao país de origem”, completa.
Cafés especiais
A classificação dos cafés especiais é determinada por uma série de avaliações definidas pela Specialty Coffee Association of America (SCAA). Para ser chamado de especial, ele precisa ter nota acima de 80 pontos, de acordo com padrões técnicos como corpo, doçura, acidez, retrogosto e outras características.
A primeira vez que se falou em “café especial” foi em 1974. A especialista americana Erna Knutsen percebeu que alguns cafés se destacavam com notas sensoriais acima do padrão. Eles tinham corpo, acidez e doçura balanceados e apresentavam os melhores sabores. Logo, aqueles grãos deveriam estar dentro de uma categoria diferente, especial.