A diferença entre os sakes
Em novembro de 2016, fui ao Japão para uma incursão em quatro fábricas de sakes, na companhia do Jo Takahashi, editor do site Jojoscope e Ricardo Castilho, editor-chefe da revista Prazeres da Mesa. Nos divertimos muito levando em conta os nossos diferentes temperamentos a ponto de tudo se transformar em piada. Isso antes de beber. Bebendo então…
Tivemos a oportunidade de conhecer a fábrica Nagai Shuzo na Província de Gunma. O proprietário, sr. Noriyoshi Nagai, é um ser de extrema simpatia, e se tivéssemos 10 pessoas como ele no nosso governo, muita coisa melhoraria. Ele sempre pensa em sua cidade, Kawaba Mura. Para preservar a nascente de onde se usa a água para a produção de seus delicioso sakes, ele construiu uma estação de tratamento que beneficia toda a população. Como se não bastasse, a família criou um supermercado onde cria o elo entre o agricultor e a população. Só podem comercializar os produtos da região. Grandes marcas industriais não entram. Assim ajuda quem produz e quem deseja consumir produtos bem frescos. Um pessoa que pensa primeiro em todos, para depois fazer a sua venda.
Já na Província de Tochigui, na fábrica Sôhomare, o proprietário e produtor sr. Jun Kono, mostra toda a sua vivência em produzir sakes e se insere com tudo na estrutura química do arroz que resulta em um sake delicado, profundo e de muito bom gosto. Um dos principais sakes são os Kimotos. Sakes rústicos que deveriam ser mais agressivos, conseguem transformar-se em uma bebida presente. Se fosse comparar com a personalidade humana, seria uma pessoa que fala pouco, mas com quem sempre se pode contar e ainda conseguir um bom leque de conhecimento.
“Subindo” o mapa japonês, seguimos para Nihonmatsu na província de Fukushima. Lá, conhecemos a fortaleza do sake Ninki Shuzo. No comando, o sr. Yujin Yusa, com a sua irreverência e carisma, coleciona prêmios atrás de prêmios nacionais e internacionais. O seu intuito é criar um “novo sake” e sair dos clássicos. Há uma linha de cinco sakes espumantes ou happou-shu, um melhor que o outro. Cada um feito com tanto cuidado, ingredientes diferentes que se fosse escolher qual comprar, ficaria no mínimo meia hora para escolher apenas um (ou então 1 segundo para levar todos). Desde o plantio do arroz, criação dos próprios equipamentos de produção, nada lembra as fábricas clássicas. A marca Ninki é a nova promessa para o futuro do mercado de sakes fora do Japão.
Na mesma província, finalizamos na fábrica Yamatogawa, que fica em Kitakata, e provamos os sakes Yauemon. Três de seus rótulos já estão no Brasil. Olhando a fachada, você se tele-transporta para o período Edo. A cidade é famosa nacionalmente por seus lámens e também é conhecida com a Cidade dos Kuras (Adegas). Toda a sua construção é antiga e data justamente o período feudal japonês. Entramos num kura que serviu como antiga área de produção de sakes. Toda preservada de forma cirúrgica, os materiais e utensílios estão conservados como um museu. Para nós, que estudamos sakes, é de encher os olhos, tanto para pesquisa como de emoção mesmo. Fotos e gráficos mostram aos visitantes como era a antiga produção de sakes. O antigo espaço onde fermentavam os mostos do sake, se transforma na Sala do Portifólio que expõe toda a linha produtos de forma artística. Já a nova fábrica é toda moderna. Uniu-se a produção clássica da bebida com a tecnologia computadorizada. Apenas três pessoas trabalham no local sob o comando do sr. Kazunori Sato.
Pena que a nossa aventura durou apenas 6 dias. A sensação é de que estivemos por mais de duas semanas.