Perspectivas da indústria da pesca no Brasil
Ao pedir um prato de sashimi em um restaurante, dificilmente pensamos no caminho pelo qual o peixe passou antes de chegar à mesa. Todo o trajeto da cadeia produtiva, da captura até a venda, é um campo complexo que envolve a logística de transporte e de beneficiamento do produto. Quando este produto é um pescado, o cuidado deve ser ainda maior, dada a fragilidade do alimento e da importância dos cuidados sanitários.
No mundo todo, a indústria do pescado movimenta cerca de US$ 600 bilhões, com um consumo médio anual de 18,8 kg por habitante. Enquanto isso, no Brasil, o consumo de pescado cresceu de 6,7 kg (2000) para uma média de 14,5 kg (2013) ao ano – 2,5 kg a mais que o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com pesquisas do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), esse aumento ocorreu por diversos motivos, entre eles: o aumento do poder aquisitivo do brasileiro e a popularização da culinária japonesa. Esta evidência vem ao encontro das pesquisas do Comitê da Cadeia Produtiva da Pesca e da Aquicultura da Fiesp (Compesca). “Em 2008, começamos uma pesquisa voltada à culinária japonesa e percebemos que, se na década anterior a moda era abrir churrascarias, hoje vemos um crescimento significativo de restaurantes japoneses. Sem contar que as próprias churrascarias aderiram ao cardápio japonês”, observou Meg Felippe, membro do Compesca.
A demanda pelos pescados incentivou o desenvolvimento da indústria brasileira que, hoje, ocupa a 12ª posição no ranking mundial da aquicultura. Acreditando no potencial do desenvolvimento sustentável da indústria da pesca no Brasil, a meta do MPA é estar entre os cinco maiores produtores do mundo até 2020.
Por isso, é importante discutir os mecanismos para que o mercado possa crescer. Durante o Fórum Brasileiro da Indústria de Pescados, que aconteceu durante a feira de negócios Japan & Asian Food Show, de 3 a 5 de agosto, representantes do setor apresentaram os principais desafios da indústria brasileira.
Para Roberto Imai, presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca de São Paulo (SIPESP), é importante pensar na cadeia produtiva como um todo, pois “integrar os elos é uma medida essencial para desenvolver o mercado”.
“Do ponto de vista da indústria, o produto nacional ainda precisa melhorar a padronização e buscar escala para crescer”, avaliou Imai ao elencar as prioridades do mercado de pescados no Brasil. Além disso, o empresário considera importante explorar mais variedades de produtos, assim como na culinária japonesa, que é marcada pela troca de estações do ano. “Utilizar a matéria-prima importada pode ser uma alternativa até que a produção primária nacional possa crescer”, completou.
Pensando nisso, o gerente da Trident Seafood do Brasil, Marcelo Eiger, adiantou que já está trabalhando em projetos para 2016, para a importação de novos produtos como kanikama e ovas. “Existem entraves burocráticos, principalmente na aprovação de rótulos, mas queremos trazer novos produtos não só para restaurantes como também para mercados especializados”, disse.
Desconfie dos baratos
Rodrigo Joaquim, sócio do Grupo 5 e conselheiro da Associação Brasileira de Logística, destacou que, além do papel das empresas na produção, outro personagem fundamental para o nivelamento do mercado é o cliente. Joaquim alertou que é importante ficar atento aos preços e concluiu: “o preço muito baixo pode indicar algum tipo de irregularidade”.
Compartilhando esse mesmo ponto de vista, Felippe defende que “o grande fomentador das dificuldades da cadeia produtiva é a falta de conhecimento em relação ao pescado”.
“Não adianta querer um produto de boa qualidade se não estiver claro o que é um produto ruim”, observou. É por isso que o Compesca foi criado com os desafios de “unir os elos da produção, estimular pesquisas e buscar soluções para os entraves da cadeia produtiva”.
“O mercado tem muito a melhorar, principalmente se comparado à cadeia produtiva de outras proteínas. Ainda existem muitos pontos de comercialização informal, na beira da praia ou em pequenas comunidades, sem contar que a mão de obra nesse setor tende a diminuir com o passar dos anos”, observou.