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Panificação japonesa
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Hoje, os pães ganham cada vez mais espaço no Japão, em padarias (ou boulangeries) que sempre oferecem uma novidade, na incessante busca por novos sabores. “Fiz um estudo de mercado sobre a panificação no Japão e fiquei impressionado com o que vi. A cultura do pão mudou”, conta Rogério Shimura, do Levain, durante palestra da Semana da Mesa. “E o consumidor japonês é sedento por novidades, por isso, as padarias também precisam se adaptar a esse perfil”, analisa.
Os pães não fazem parte da culinária japonesa tradicional, mas com o início da Era Meiji (1868-1912) as influências estrangeiras passaram a redefinir os hábitos japoneses, inclusive os alimentares. As opções de pães eram desconhecidas até então e passaram a atrair a atenção dos japoneses graças ao sucesso do anpan que foi servido ao imperador. (Veja box abaixo)
Os originais
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O anpan (veja receita aqui) é considerado o primeiro pão genuinamente japonês. Trata-se de um pão doce com a superfície dourada, a massa bem macia e leve. No centro, a cremosidade da pasta de feijão azuki pode ser substituída por outras variedades de recheio, como a pasta de castanha portuguesa, de feijão branco, geleias etc. “Ele é um pão legítimo japonês e é exatamente o encontro entre a panificação ocidental e a confeitaria oriental”, observa a chef Saiko Izawa, do Attimo.
Com o passar dos anos, novos pães começaram a ser desenvolvidos e, hoje, os mais populares são os pães de forma extremamente macios que são vendidos em diferentes espessuras, o karepan (pão de curry), o butter roll (que serve como base para outros pães) e pães recheados (com batata doce, salsicha, maionese e milho).
O historiador japonês Toyoyuki Sabata analisa em seu livro Nikushoku no Shiso (sem tradução para o português), que o pão é mais seco que o arroz e que é mais difícil de ingerir “por isso, não é tão aceito como substituto do arroz e se encaixa melhor na categoria dos doces”. De acordo com o Conselho de Difusão do Consumo de Pão do Japão, entre 1965 e 2012, houve um aumento de 40% na produção de pães no país.
A chef Saiko Izawa trabalhou por muitos anos produzindo pães japoneses sob encomenda e fez estágio em uma padaria artesanal de Tóquio, de onde trouxe as receitas. “Muitas coisas são parecidas com o que eles servem como o modelo do pão, as combinaçõs de recheios, mas algumas coisas precisaram ser adaptadas aqui, por exemplo, a farinha e a manteiga”, explica.
Para a produção desta reportagem, a chef apresentou algumas de suas especialidades.
“Nas padarias japonesas há uma novidade a cada dia. Escolhi alguns mais clássicos, como o anpan, o butter roll e o melonpan”.
O melonpan, ou “pão de melão”, tem o formato da fruta (semelhante ao da casca da variedade cantaloupe). A massa do pão é levemente adocicada e é envolta por uma camada crocante que preserva a umidade. Algumas versões do melonpan levam essência de melão, pedaços de chocolate ou creme e pode ser encontrado facilmente em padarias e lojas de conveniência de todo o Japão.
O primeiro pão japonês
O anpan foi inspirado no manju, um bolinho de origem chinesa que também é recheado com anko (pasta de feijão azuki). A versão do pão doce japonês foi criada por Yasubei Kimura, o precursor da panificação no Japão. A loja Kimura-ya existe até hoje em Ginza, Tóquio, e deu origem a mais de trinta filiais que continuam servindo o anpan original e outros pães.
Na época, Yasubei e seu filho tentavam adaptar as receitas de pães ao paladar japonês. Depois de muitas tentativas, criaram um pão feito com fermento sakedane (de arroz) – que dá um aroma especial ao pão – e o rechearam com anko (pasta de feijão azuki, muito usada na confeitaria tradicional).
No dia 4 de abril de 1875, eles produziram uma versão especial para o imperador Meiji, feito com pétalas de sakura para que ele levasse em seu passeio de primavera. Por esse motivo, o pão começou a ganhar popularidade e a data ficou conhecida como o Dia do Anpan.
Confira a receita de Anpan, da chef Saiko Izawa
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