Tatuagem tradicional japonesa em documentário

Pamela Valente dirigiu o documentário Rock’n’TokyoA brasileira Pamela Valente, que hoje reside na França, estará no Japão a partir de quarta-feira 6 de maio para filmar, ao lado do jornalista Pascal Bagot, o documentário The Way of the Ink. Sua missão: desvendar, com câmeras em mão, a arte em extinção do irezumi, ou a tatuagem tradicional japonesa.

As filmagens na terra do Sol nascente devem durar três semanas e poderão ser acompanhadas por meio do blog do documentário.

La Voie de l'Encre/The Way of the Ink/A Rota das Tintas – présentation from Pamela Valente on Vimeo.

“O número de horishis, mestres-tatuadores que trabalham em tebori, à mão, sem máquina para tatuar, diminui a cada ano. O aprendizado é complicado, e os clientes também diminuem: os yakuzas abandonam a tradição das tatuagens. Os jovens japoneses parecem mais inclinados a gravar na pele motivos tribais ou de inspiração ocidental. No filme, vamos descobrir a razão dessa atitude”, justifica a diretora.

Não é a primeira incursão cinematográfica de Pamela ao mundo da cultura underground japonesa. Em 2007, ela lançou seu também independente Rock’n’Tokyo, que retratou o rock alternativo da cidade, ao acompanhar as bandas Guitar Wolf, The 5678s e Jet Boys.


Vídeo: Pamela Valente

Confira a entrevista que a diretora concedeu, por e-mail, ao site Made in Japan.

Entrevista – Pamela Valente

Como foi fazer o documentário Rock’n’Tokyo? O que aprendeu e o que foi mais marcante em todo o processo?
Rock’n’Tokyo nasceu de uma necessidade absoluta – depois de dois anos morando em Tóquio, por questões pessoais, eu tinha de voltar para Paris. Eu havia filmado um pouco em Tóquio (cheguei a expor um trabalho de video-arte realizado no Japao em uma galeria em Ginza), mas me parecia inconcebível deixar essa cidade que eu adoro sem uma marca mais pessoal.

Queria fazer um video para mostrar uma das Tóquios na qual eu transitava – underground e rock. Escolher as bandas não foi difícil – peguei meus grupos prediletos: Guitar Wolf, The 5678s e Jet Boys. Depois, fiz um casting com bandas de garotos que tocavam nas ruas de Tóquio, e escolhi os meninos do Nine pelo som e pela garra que tinham.

Eu não conhecia pessoalmente os roqueiros antes de começar a filmar, e os primeiros contatos foram um pouco difíceis. Mesmo sendo roqueiros underground, eles tinham essa atitude japonesa de esperar que eu provasse meu interesse por eles e minha capacidade em entendê-los. Mas depois dessa primeira fase de “teste”, as coisas rolaram muito bem.

De onde vem seu interesse pelo Japão e o que lhe fascina, hoje, na cultura japonesa?
Morando na França, descobri os filmes de diretores japoneses contemporâneos, como Miike Takeshi ou Tsukamoto Shinya. Foi uma descoberta fundamental. O Japão que esses novos diretores mostravam era algo inacreditável – moderno e ao mesmo tempo enraizado nas tradições, dinâmico, violento, em mutação. Foi isso que me atraiu.

Qual é a vantagem de ver o Japão com olhos não-japoneses?
Quando você vem de fora e se interessa por uma cultura, descobre tudo do zero, como uma criança ou um alienígena. Isso me ajuda a ver aspectos que meus amigos japoneses nao vêem.

Por que, agora, a tatuagem tradicional japonesa como tema?
Eu sempre gostei muito de tatuagem. Eu mesma tenho algumas tatuagens, até uma que fiz em Tóquio. Acho a tatuagem tradicional japonesa extremamente impressionante com seus desenhos complexos, suas cores sofisticadas, seu simbolismo.

Mas lá, a tatuagem é mal vista, associada ao submundo, a yakuzas. Até hoje, existem lugares onde a admissão de pessoas com tatuagens é proibida.

A tatuagem no Japão foi proibida pelo governo quando o país se abriu para o mundo, no fim do seculo 19. Apesar disso, já naquela época, impressionou os ocidentais. Além de marinheiros, chefes de Estado como o czar Nicolau ou o rei Edward da Inglaterra fizeram questão de receber tatuagens de horishis, mestres japoneses.

O que o público pode esperar de The way of the ink?
Pascal Bagot, com quem estou fazendo The Way of the Ink, é um jornalista especializado em tatuagem, apaixonado pela tatuagem tradicional japonesa. Ele será o guia nessa descoberta do irezumi. Com ele, vamos encontrar o mestre que o tatua, Horitoshi sensei, e ver como funciona seu clã. É um funcionamento ultra estruturado, hierarquizado, baseado na devoção ao mestre. Vamos conhecer algumas pessoas com tatuagens integrais – yakuzas, é claro, mas também outros personagens extraordinarios.

Em que, essencialmente, a tatuagem tradicional japonesa (irezumi) se difere dos tipos de tatuagem ocidental, no seu ponto de vista?
O irezumi se caracteriza por ser figurativo, pelas cores extremamente trabalhadas de suas composições e por responder a uma simbologia muito precisa – os desenhos sempre correspondem a lendas ou histórias ou personagens conhecidos.

Quando vocês pretendem concluir The Way of the Ink?
As filmagens começam em maio e vão durar três semanas. Depois disso, voltamos para Paris, onde faremos toda a pós-produção, que promete ser complexa. Eu pretendo incluir sequências de desenho animado para explicar a simbologia de alguns personagens comumente tatuados. Calculo que The Way of the Ink vai estar pronto no final de 2009.

Fale um pouco sobre o blog do filme.
A ideia me veio depois de ter lido o blog que Fernando Meirelles escrevia durante as filmagens de Ensaio sobre a Cegueira. É um meio de compartilhar a experiência de uma filmagem.

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Fonte: BCB (25/04/2024)
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