Depoimentos de sobreviventes da bomba atômica
Kamikaze e sobrevivente
“Fui recrutado para a aeronáutica com 15 anos e desde então, fui treinado para ser um kamikaze. Não tinha medo de morrer. Por quê? Era jovem demais e desde pequeno me ensinaram que o Japão era o país divino, que morrer por ele era uma grande honra. Que garoto não gostaria de ser um herói?”, conta Manabu Ashihara. Como não tinha idade suficiente para pilotar um avião, ele aprendeu a lidar com a parte mecânica. Aos 16 anos, em um treinamento sobrevoando o mar, ocorreu um acidente e o avião caiu. Por sorte, conseguiu escapar com vida, mas o oficial que estava pilotando morreu.“Depois do acidente, fui transferido para a Marinha. Mesmo assim a minha sentença de morte me acompanhou. Fui designado para ser um tripulante do “maruyontei”, uma espécie de barco motorizado pequeno, com 250kg de explosivos. O objetivo era o mesmo de um kamikaze. Minha missão era fazer com que o barquinho se chocasse com o navio inimigo”, conta.
Nenhum “maruyontei” jamais afundou um navio americano. Mas o governo japonês divulgava ao povo que estas missões eram um sucesso. Faz sentido, já que nenhuma mãe permitiria que o filho participasse de uma missão suicida sabendo que esta seria em vão. Mesmo assim ninguém era capaz de se rebelar, pois existia muita opressão. O governo insistia em alimentar a esperança de que ainda poderíamos virar a guerra. A ilusão só foi quebrada quando a bomba explodiu. A tarefa final de Ashihara seria ir à base militar de Okinawa e embarcar num “maruyontei” dia 21 de agosto de 1945. Nesse dia, ele morreria pela pátria.Por ironia do destino, duas semanas antes da missão, ele recebeu folga e voltou para Nagasaki a fim de reencontrar a família e os amigos. “Foi justamente na minha estadia na cidade que a bomba caiu. Todos os soldados foram designados para ajudar os feridos. Foi uma visão terrível. Não dá para explicar em palavras. Vozes pedindo socorro no meio dos escombros, pais desesperados à procura de filhos desaparecidos e órfãos desamparados. Não havia muita coisa a fazer, a não ser retirar os corpos queimados. Infelizmente são lembranças que nenhum documento pode provar.”
Manabu Ashihara, 76 anos, de Nagasaki
Assista ao trailer do documentário Hibakusha: herdeiros atômicos no Brasil, dirigido por Maurício Kinoshita