Desvendando o Soroban

Welison Calandria
A professora Kátia Sayuri, que comandou o desafio soroban x calculadora

Welison CalandriaEntre os séculos 17 e 18, a educação no Japão era privilégio de poucos, e as famílias eram responsáveis pelo ensino de suas crianças. Foi nessa época que surgiu o seguinte lema: “Ler, escrever e contar soroban”À primeira vista, o objeto retangular, cheio de contas coloridas que correm nas hastes, mais parece um brinquedo. Na verdade, trata-se do soroban, um tradicional instrumento de cálculos matemáticos desenvolvido no Japão, mas que conquistou adeptos no mundo todo, incluindo o Brasil.

A história da utilização de instrumentos para calcular (chamados ábacos) começou há mais de 2.500 anos. Os primeiros ábacos eram constituídos de fios paralelos e contas deslizantes. De acordo com sua posição, representavam a quantidade a ser trabalhada. Há indícios de que o homem já utilizava o ábaco antes mesmo da escrita. O sistema de contas e fios recebeu dos romanos o nome de calculi, o que deu origem à palavra cálculo.

Entre os diversos tipos de ábaco existentes, está o soroban (o ábaco japonês), originário do chinês suan-pan. O professor japonês Kambei Moori trouxe o aparelho da China no século 17 e desenvolveu o soroban em sua cidade natal, Kyoto. Em 1662, publicou o livro Embrião do Soroban. Apesar de Moori ser considerado o pai do soroban, manuscritos japoneses datados de 1503 já descreviam o ábaco de calcular suan-pan, levantando a hipótese de que o aparelho já era conhecido no Japão. Trazido ao Brasil pelos imigrantes japoneses, o soroban era usado em cálculos cotidianos. O método foi desenvolvido mais tarde por Fukutaro Kato, que chegou ao País em 1956, ensinou o shuzan (arte de manejar o soroban) e fundou a Associação Cultural de Shuzan do Brasil.

Welison CalandriaConheça o soroban por dentroCapaz de efetuar operações matemáticas com números negativos, decimais, raiz quadrada e cúbica, o soroban ainda é muito utilizado. Existem campeonatos mundiais no Japão e torneios nacionais em diversos países. A graduação do soroban começa no 15º grau e vai diminuindo até que o praticante alcance o dan. A partir daí, o grau passa a ser contado como 1º dan, 2º dan e assim sucessivamente. É possível continuar aumentando o número do dan infinitamente. Apesar de parecer estressante, o soroban é utilizado para relaxamento. Além disso, desenvolve o cálculo mental. Nele, os sorobanistas devem imaginar o soroban e seus movimentos de modo a solucionar os exercícios. Com o desenvolvimento do cálculo mental, contas envolvendo mais de seis dígitos podem ser feitas sem o auxílio de qualquer aparelho de calcular.

Quem é o mais rápido?

Para testar a velocidade do soroban, Made in Japan promoveu um desafio entre o aparelho e uma calculadora. A analista financeira com pós-graduação em Finanças Corporativas Fátima Miazato usou a calculadora. O atual campeão brasileiro de soroban na categoria Ditado, Mario Yokota, utilizou o ábaco japonês.

O desafio foi dividido em duas etapas.

Welison CalandriaNão dá para acompanhar o ditado usando a calculadora.

São muitos númerosNa primeira, os dois participantes deveriam ouvir os números ditados pela professora Kátia Sayuri, do Centro Paulistano de Soroban.

Essa prova é chamada de Ditado pelos sorobanistas e é usada para medir a velocidade na execução de cálculos.

Os participantes deveriam executar uma operação de soma com os seguintes números: 725.194.083 + 947.381.562 + 592.743.610 + 134.206.958 + 680.537.241 + 398.670.154 + 810.725.936 + 549.036.278 + 281.547.609 + 402.368.917 = 5.522.412.348.

Welison CalandriaUso calculadora no dia-a-dia, mas é impossível fazer essas contas com tanta velocidade. Só usando o soroban No soroban essa conta foi resolvida em 32 segundos.

Já na calculadora… “Não dá para acompanhar uma conta com essa quantidade de dígitos na calculadora.

São muitos números”, disse Fátima.

A segunda etapa do desafio consistia na leitura e execução da seguinte operação: 380.629.574 + 751.402.698 + 179.354.086 + 937.268.150 + 642.381.709 + 105.429.837 + 476.215.903 + 813.594.672 + 296.031.458 + 562.470.381= 5.144.778.468.

Dessa vez, a calculadora conseguiu executar a operação com o resultado correto em 31 segundos. Pode parecer rápido, mas o soroban conseguiu efetuar a mesma operação também com o resultado correto em apenas 26 segundos.

Welison Calandria

Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão foi invadido por calculadoras norte-americanas. Em 12 de novembro de 1946, para provar a supremacia das máquinas dos Estados Unidos, foi marcado um duelo entre elas e o soroban. O japonês Kiyoshi Matsuzaki e seu soroban venceram

Craques de todas as idades

Welison CalandriaCaçula de uma família de três irmãos, Felipe Kenji Nagata, de 11 anos, estuda soroban desde os 7. Atual campeão brasileiro do 4º grau, também ficou em segundo lugar na prova de Cálculo Mental e terceiro no Ditado.

Os bons resultados fizeram com que o garoto recebesse o prêmio de melhor desempenho em sua categoria. Além de ter melhorado as notas na escola, o soroban trouxe muitos colegas a Felipe. “Não tenho amigos na rua, mas no soroban arranjei vários amigos, de Mogi e até de Belo Horizonte”, afirma.

Welison CalandriaOutra expert é Elaine Siuetsugu, campeã brasileira da Prova Geral nos anos de 1998 e 1999.

Auditora de sistemas, ela começou a estudar o soroban aos 11 anos.

“Ele desenvolve o raciocínio lógico, a concentração, a memorização e a percepção.

Você aprende a fazer cálculos com rapidez e perfeição”, conta.

Mais disciplina no trabalho

Welison CalandriaO analista do Banco Central do Brasil Edson Yoshida teve sua primeira aula de soroban aos 37 anos. Estudante há dois anos, Yoshida acredita que o soroban não é útil somente para fazer contas. “O soroban torna a pessoa mais disciplinada. Ela passa a ter um método para fazer as coisas. Isso pode ajudar no dia-a-dia”, explica.

O analista está no 1º grau e ainda tem dificuldades para executar o Cálculo Mental (exercício no qual os sorobanistas fazem contas sem utilizar o soroban). “Tenho dificuldade em imaginar a movimentação das bolinhas (contas) na cabeça, saber em que posição elas devem estar”.

Onde aprender

– Centro Paulistano de Soroban (0xx11) 3284-7598.
– Associação Okinawa Vila Carrão (0xx11) 6197-0404.
– Instituto Cultural Brasil-Japão do Rio de Janeiro (0xx21) 2220-7877.
– Tamy Soroban Juku (0xx11) 276-3481.
– Seinen Bunkyo (0xx11) 3208-1755. www.bunkyo.org.br/seinen

Mais informações no e-mail: atendimento@cpsoroban.com.br

Reportagem: Ricardo Ueno

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Raciocínio relâmpago

Redação Made in Japan Redação do site Made in Japan
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Fonte: BCB (18/04/2024)
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